terça-feira, 19 de abril de 2011

Páscoa: sentimento de libertação


Estamos em quadra festiva, os cristãos, seguidores da doutrina de Jesus Cristo, comemoram a Páscoa, lembrando a paixão, morte e a ressureição do anunciado “Messias”, o filho de Deus que um dia viria ao mundo dos homens, para os seus crentes poderem obter a libertação do “pecado”.
Páscoa, siginifica “passagem” e já se celebrava muito antes do nascimento de Jesus. Os judeus já comemoravam nesta data a libertação e fuga do seu povo escravizado no Egipto.
Quando da sua morte, Jesus Cristo teria ido a Jerusalém comemorar a Páscoa, onde falou ao seu povo e de encontro aos muitos seguidores da sua doutrina. Esta nova mensagem de Deus, agora pronunciada por Jesus, era baseada no amor infinito entre os Homens, representando na Terra, o amor a Deus.
Jesus Cristo, com a sua entrega para a morte, pretendeu dar ao mundo uma lição de amor entre todos nós, pois com aquele acto, Jesus Cristo salvaria o mundo do “pecado” e resgataria todos aqueles que, por via do amor infinito, alcançariam a vida eterna.
Nesta data festiva da Páscoa, tal como no Natal, as pessoas estão mais “amorosas”, mais sensíveis e parecem mesmo estarem mais bem dispostas. Quando passam por alguém conhecido, repetem em forma de rotina “Boa Páscoa” e como resposta recebem uma expressão sorridente a retribuição das mesmas palavras.
Os mais religiosos, são aqueles que melhor comemoram os acontecimentos da Páscoa. Participam nos eventos Pascais, convidam as pessoas mais chegadas para estarem com eles e ainda, pedem a sua presença nos actos religiosos que agora se comemoram.
O sentimento e a palavra de todos os seguidores da religião cristã, baseiam-se na vida, morte, ressureição e vida eterna de Jesus e no exemplo que nos deu na sua passagem pela Terra. Resta-nos seguir a sua palavra “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” e ter muita fé, que tudo de bom vai acontecer a todos aqueles que pregarem a palavra de Deus e praticarem o amor infinito que Jesus nos ensinou.
Várias religiões cristãs e outras que não reconhecem Jesus como sendo o “Messias”, escolhem bons oradores, pessoas que têm o dom divino da palavra, para fazerem passar a mensagem de Deus.
A partir da pregação da palavra de Deus e mesmo concordando-se que Deus seja o mesmo para todos, gerou-se uma concorrência de religiões e qualquer pessoa mais “iluminada” cria uma nova religião.
Cada uma delas tenta “recrutar” para si os pregadores melhores falantes, com o tal dom “divino” da palavra, afim de retirar das outras religiões os fiéis que até ali acreditavam que a sua religião é que era a certa. Então troca-se algo que nos ensinou a doutrina da fé e do amor por outro algo que nos ensina precisamente o mesmo, mas de outra forma, ou melhor, com outras palavras.
No entanto os pregadores, os chamados ministros, pastores, oradores, irmãos, etc., aqueles que têm e aplicam bem o dom da palavra e ainda os outros que não tendo este dom, são verdadeiros seguidores da fé, verificam que com os seus dons, não conseguem transformar as palavras em obras.
A maior parte dos fiés limita-se a fazer parte de uma religião, porque isso lhes dará notoriedade, ouvem a pregação da fé, frequentam os templos onde se venera e adora o Deus em que dizem acreditar. Mas, o principal pilar da sua fé, o amor para com os outros, na prática é esquecido, logo após deixarem o local de oração.
Se, pelo menos, as pessoas que frequentam os locais de culto divino que juram servir a Deus, seguissem na prática a sua doutrina, à muito tempo que se viveria na Terra, aquilo que os crentes em Deus, ambicionam viver no Céu.
A prática do bem e do amor que ouvimos através da palavra divina, não se limita apenas a pertencermos a esta ou áquela religião ou se não estivermos satisfeitos com esta ou com aquela, mudarmos para uma outra.
Praticar o bem e o amor não é só frequentarmos regularmente e sermos vistos nos actos religiosos. Não é só darmos aos pobres aquilo que já não precisamos ou um cabaz com alimentos oferecido a alguém pela Páscoa ou pelo Natal, que às vezes nem é entregue aqueles que mais precisam, mas aos que mais aparentam precisar.
Praticar o bem e o amor é possibilitar aos outros, ao próximo, como nos ensinaram, as oportunidades a que todos temos direito, mesmo que os outros sejam pobres, pensem diferente de nós ou tenham outra formação.
Para praticar o bem e o amor não basta abrirmos as portas ao próximo, é preciso convidá-lo a entrar e dar-lhe o seu lugar a que tem direito. Já instalado, o nosso próximo tem os mesmos direitos e obrigações que nós mesmos, é preciso indicar-lhe o seu caminho, pois ele é igual a nós e também o saberá percorrer.
Praticar o bem e o amor, é passarmos das palavras aos actos; é sermos activos, trabalhando e produzindo para nós e na mesma proporção para aqueles que disso estão fisicamente impedidos ou não tenham minimamente capacidade.
Os que tem vocação para liderar pessoas, devem ser justos e bons mestres e permitir que outros também possam seguir as suas passadas. Por norma, as pessoas desempenham cerca de metade das suas capacidades, em esforço podem atingir os oitenta por cento. Isto deve-se à sua pouca motivação e tem origem na falta de reconhecimento do seu trabalho. Reconhecer que os outros também são gente, também é praticar o bem e o amor.
O bem e o amor propaga-se pela humanidade quando deitarmos por terra a inveja, o ódio, a violência, o ciúme, a superioridade e tudo o mais que possa impedir com que os outros também tenham as mesmas oportunidades que nós.
O nosso próximo não precisa das nossas dádivas, precisa, isso sim, que também tenha a sua oportunidade.

Vamos esperar para ver...

Carlos Brito

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amor, trabalho e lazer


Algumas pessoas que têm diferenças físicas em relação aos que se dizem normais, dão a estes muitas lições de vida e vivem com muito mais entusiasmo do que muitos daqueles que não têm qualquer deficiência. Costumo contar uma história de um homem
que não tendo sapatos para calçar, exibia os seus pés sujos a toda a gente
que por ali passava. Sentado num pequeno muro de uma praça bastante concorrida de pessoas que visitavam um monumento muito importante e conhecido, ia pedindo esmola
a este e àquele e de vez em quando alguém lhe dava uma moeda, a qual ele com cara muito triste, ia agradecendo aos seus benfeitores.

Numa tarde soalheira de Primavera, quando muitos transeuntes por ali passavam, um deles dirigiu- se ao mendigo e perguntou-lhe o que fazia ele ali sentado, num dia tão bonito de Sol. O pedinte, admirado com a pergunta, olhou para o homem e respondeu: peço esmola, meu amigo, porque não tenho dinheiro para comprar sapatos para calçar.

O outro, bastante indignado, questiona-o se é só por isso que pede esmola e sentando-se ao seu lado, tira as próteses que lhe substituem os pés e disse ao pedinte:
O senhor tem pés, apenas precisa de os lavar, pode trabalhar e ganhar dinheiro para comprar sapatos. Eu, e apontou para as pontas das suas pernas amputadas, não tenho pés, no entanto vivo feliz com a minha forma física. Procurei trabalho e vivo a minha
vida sem estar dependente das esmolas daqueles que como eu, trabalhando, se esforçam para obter rendimentos para si e para a sua família viverem dignamente.

Como aquela cena se tinha passado ali mesmo junto de mim, logo perguntei
ao homem que tinha a deficiência física, qual a sua motivação para conseguir ter tanta auto-estima em si próprio para falar ao pedinte daquela forma.
Ele contou-me que também foi muito difícil quando, devido a um acidente de automóvel, lhe amputaram os dois pés. Nunca desistiu de viver e a partir dessa data, com a ajuda das próteses, vive uma vida normal, nunca se deixando cair pela fraqueza da dependência.
Para se sentir de cabeça levantada, além das próteses que lhe vieram dar de novo os seus pés, agarrou-se a três forças que considera fundamentais para a existência da humanidade: AMOR, TRABALHO E LAZER.

Depois do acidente, este homem tornou-se muito mais humano e muito mais Homem. Sabe aplicar o Amor em todos os seus actos.
O Amor é uma afeição viva pelas pessoas e pelas coisas que vimos e sentimos.
O Amor é viver com paixão por aquilo e aqueles que amamos.
Amor é coragem para dizermos e realizarmos o que sentimos e que sabemos ser capazes.
O Amor é o zelo e a dedicação que incutimos nas nossas tarefas e nos objectivos que
desejamos para os nossos trabalhos.
O trabalho uma actividade física e intelectual através da qual visamos atingir os objectivos, mas com prazer, usando nele as técnicas de gestão e organização que nos permitem obter melhores resultados.

O trabalho é a contrapartida da existência, sem ele não seria possível adquirirmos os nossos bens e termos à nossa disposição os serviços que diariamente precisamos.

O lazer vive-se tão intensamente como o Amor e o trabalho vivendo os tempos de lazer sem sentimento de prejuízo que possa causar nas suas outras ocupações.
Existe tempo suficiente para nos dedicarmos intensamente ao amor, ao trabalho
e aos períodos de lazer. Infelizmente, é preciso haver acidentes na vida das pessoas para sentirmos que poderemos viver a nossa vida em pleno, desde que apliquemos diariamente estas três forças: O AMOR, O TRABALHO E O LAZER.
Foi uma grande lição que aprendi naquele dia e ajudou-me a compreender melhor que aquelas três forças juntas, formam uma nova força, a energia positiva que nos transmite felicidade, dignidade e confiança para vivermos cada dia, todos os dias, em estado
de bem estar e excelência no trabalho.

Estas forças só serão vitais para a nossa felicidade se as conhecermos bem, se aprendermos a estar com elas e se realmente as utilizarmos em toda a sua plenitude. O que normalmente acontece é limitarmo-nos a saber que elas existem!

Carlos Brito

A lei do mais forte

Já por várias vezes que nos cruzamentos ou ao seguir numa estrada onde tenho prioridade de passagem, alguns camiões, daqueles bem grandes, se atravessam no meu caminho quando vou a conduzir a minha pequena viatura com a qual eu trabalho ou faço os meus passeios de lazer.

Esta semana que passou, este episódio mais uma vez se repetiu. O acontecimento de agora fez-me lembrar um outro de há alguns anos atrás. Um desses veículos pesados, composto por tractor e semi-reboque entrou  na minha faixa de rodagem vindo de uma rua sem prioridade, pois era um acesso de uma propriedade particular. Ignorando completamente o veículo onde eu seguia, continuou a sua marcha à mesma velocidade que trazia antes de entrar na minha “mão”. Muito assustado com a sua manobra, pois tive de travar bruscamente para não ter sido “passado a ferro”, a primeira coisa que me lembrei foi de buzinar longamente, fazendo chegar ao condutor do “pesado” o som do meu descontentamento.

Já depois de termos percorrido cerca de cem metros, eu continuava a buzinar, pois não via outro modo de fazer corrigir o erro daquele condutor que seguia à minha frente. Qual não foi o meu espanto, quando de repente, tendo-se acabado as pressas, o veículo se imobiliza em plena faixa de rodagem e de dentro da cabine sai de lá um “camelão” de todo o tamanho com um ferro comprido e grosso, dirigindo-se na
minha direcção, dando urros e transmitindo sons que mais pareciam serem emitidos por um animal selvagem ferido de dor.

Como o “animal” não desistia da sua intenção de fazer chegar aquele ferro ao seu destino que pelo seu andamento, deveria ser as minhas costas, cabeça ou não sei mais oquê, limitei-me a não lhe dar tempo de ele cumprir aquilo que na sua mente vinha destinado a fazer. Graças a Deus tive reflexos para me deslocar rapidamente daquele lugar e nada de mais grave aconteceu, senão aqueles dois sustos. Um, de ver um camião atravessar- se no meu caminho e outro por ver um “animal” enraivecido, parecido apenas com um homem na sua forma, do qual eu tive de fugir a “sete pés” para não ser literalmente massacrado por quem, apenas, foi chamado à razão do seu erro.

O maior problema dos Homens é eles serem todos tão parecidos uns com os outros que nunca sabemos bem quando é que dentro deles se encontra verdadeiramente um Homem.

Quando tirei a minha carta de condução e comecei a minha aventura na estrada, os meus acompanhantes no carro, muito se admiravam quando eu agradecia aos outros condutores por eles buzinarem para mim. Uma chamada de atenção pelos nossos erros é sempre de agradecer, pois só os verdadeiros amigos o fazem
a tempo. Depois daquele acto tresloucado, outros condutores de camiões já fizeram outras manobras parecidas, mas nunca mais me atrevi a buzinar-lhes.

A visão do “homem”, entre aspas, porque não sei bem se aquilo também
é ser homem, vejo-a muitas vezes, quando me sinto impotente para chamar à razão tantas pessoas que cometem erros e não dão a mínima hipótese de a minha “buzina” os fazer emendar. Bastaria muitas vezes
que as pessoas, mesmo não vindo de ferro na mão, ouvissem o que lhe queremos transmitir. Não o fazendo,
para aquele que pretende ser verdadeiro amigo e avisar os erros do próximo, o efeito é o mesmo que senti quando me vi ameaçado pelo “homem do ferro”. Resta-nos fugir da situação, não vá a coisa complicar-se para o nosso lado quando a nossa intenção, é ajudar a consertar algo que verificamos não estar bem e que
nos sentimos na obrigação moral de ajudar a corrigir.

Praticar a cidadania é podermos exercer os nossos direitos de cidadão. Deveriamos sempre poder
exercê-lo sem termos receio de estarmos sujeitos a que qualquer um se lembre de vir de lá com o seu
“ferro” na mão e machucar os que apenas têm intenções de ajudar.

O meu desejo para o novo ano é que este “ferro” deixe de ser a palavra de ordem, seja qual for a forma em que ele é empunhado. O “ferro” pode ser o silêncio, como resposta às nossas ideias, quando elas por inconveniência, não interessam a quem são remetidas.

O “ferro” pode ser o desinteresse demonstrado por aqueles que têm na mão o poder de decisão de sonhos que outros tentam a todo o custo realizar e não conseguem.

O meu sonho é que todos consigam realizar as suas ideias, os seus projectos, alcançar os seus objectivos, convencendo o homem do “ferro” que o efeito da “buzina” é apenas o de alertar para novos erros e que as outras pessoas, seja qual for o seu "tamanho", também tenham as mesmas possibilidades de seguirem o seu caminho com paz, ordem e tranquilidade.

Carlos Brito

domingo, 26 de dezembro de 2010

As desgraças unem os Homens mas não os ensina


O MUNDO surpreende-nos com notícias de fenómenos da natureza como o terramoto no Haiti que afectou cerca de três milhões de pessoas. Toda a zona da capital do país foi reduzida a escombros. O tremor de terra teve a magnitude de 7 na escala de Richter em que o máximo é de 9.

A América, a Europa e o mundo em geral compreendeu as dificuldades em que se encontra aquele pequenopaís. De todo o lado surgiram auxílios para as pessoas afectadas que de repente ficaram sem nada e para a completa recuperação dos feridos da tragédia.
Na linha da frente lá esteve Barack Obama que  pediu a união de esforços e da organização das forças humanitárias que auxiliaram as pessoas que precisaram de toda a ajuda.
As pessoas, individualmente, organizaram-se no sentido de fazer chegar também a sua ajuda áquele povo. Cada pessoa deu o que pode. Para uns sessenta cêntimos do custo de uma chamada da linha de ajuda já é muito, no entanto outros com maiores possibilidades financeiras teriam participado, por certo, para que quantias mais elevadas tivessem contribudo para a regularização dos estragos causados no Haiti.

Toda a gente foi sensível aos efeitos daquele fenómeno da natureza que afectou aquela zona do globo.
Nunca se sabe onde ou quando o nosso planeta nos vai lembrar que forças superiores estão acima das nossas atitudes mesquinhas de vida. Nunca se sabe quem vai ser “apanhado” da próxima vez. No entanto logo que tenhamos dado a nossa ajuda e que o tempo deixe passar alguns dias, já estamos descansados e não mais nos lembramos dos milhões de pessoas que o sismo marcou por morte, pelos feridos não recuperados totalmente e que ficarão deficientes para o resto da vida e ainda pelos mais pobres que ficando desalojados, muitas dificuldades terão em recuperar as suas casas que lhes serviam de abrigo.

Um amigo meu disse-me um dia que “o tempo é o grande mestre”. Como ainda era muita jovem, pensava que esse mestre nos transmitia os seus ensinamentos e que o Homem aprendia com ele. Com o passar do tempo, verifico que o tempo nos dá todas as oportunidades para aprendermos com a sua passagem, mas nós não fazemos uso de todas as suas muitas lições.

Das muitas leis que regulam o universo, a lei da solidariedade é talvez das mais importantes. Somos impelidos a ajudar o próximo. Uma força interior nos diz que temos de ajudar quem precisa. A acção dessa força pode ver-se na ajuda que todos, influenciados pela lei da solidariedade, conseguimos dar ao povo do Haiti.

Pretendo aqui chamar a atenção para o facto da força dessa lei apenas “disparar”quando existem grandes desgraças. Quanto maior for a desgraça, maior é a intensidade e com mais rapidez fazemos actuar a força que regula a lei da solidariedade.

Não deveríamos esperar que fenómenos naturais nos fizessem despoletar o nosso engenho da solidariedade apenas quando somos surpreendidos com tamanhas catástrofes. Cada pessoa é portador deste engenho regulador que nos faz agir nos casos em que temos de usar a lei da solidariedade.

Isso vê-se quando acontecem catástrofes como a do sismo do Haiti ou sempre que
um familiar ou ente querido sofre de sinistro grave. No entanto, esse engenho regulador deixa de funcionar quando alguém está com qualquer dificuldade que não faça “estragos” até uma determinada escala de sinistralidade.

Muitas vezes quando o engenho “dispara” já é tarde demais para ajudar e ninguém reparou nas vítimas, pois os afectados não conseguiram fazer chegar a sua voz de dor e sofrimento aos sensores que fazem disparar a força que acciona em nós, a lei da solidariedade.

Na verdade as grandes desgraças unem os Homens, mas não os ensina e nem os prepara para usar a lei da solidariedade para os pequenos actos de ajuda ao próximo. Aos olhos de uns, podem ser coisas tão pequenas e banais que não lhes é dada qualquer importância, mas podem ser monstros enormes aos olhos daqueles que apenas precisam de uma pequena ajuda, que por ser tão pequena passa despercebida. Quem precisa desse tipo de ajuda, resta- lhes mendigá-la, muitos não conseguem fazê-lo e os que o fazem, a maior parte não são atendidos. Segue-se a depressão e outras doenças que são o prelúdio para a morte lenta. No entanto, nem os familiares, nem amigos, nem todos aqueles que são sensíveis a tragédias reparam em quem está nesta situação, salvo quando já é tarde de mais e, por via disso, já não vale a pena ajudar.

De vez em quando alguns familiares e amigos que me conhecem melhor dizem que eu não vou conseguir mudar o mundo. Eu ficarei muito satisfeito se conseguir mudar um pequena parte dele, mesmo que seja tão pequena que ninguém repare nela !

Carlos Brito

sábado, 25 de dezembro de 2010

Carta ao Pai Natal


Na quadra festiva do Natal fazemo-nos transportar no tempo até áquela fase da nossa infância. Belos tempos, aqueles em que somos crianças e que nos comportamos como crianças.
Não conhecemos o futuro porque ainda não passámos por ele. Todas as coisas têm um ar belo, a luz do dia e o escuro da noite, transmitem-nos momentos de pura felicidade em cada acto que cometemos.
E nessa idade realizamos tantas coisas. Todos os dias aprendemos coisas novas e vivemos cada dia com deslumbrante entusiasmo.
Todas as pessoas são boas, mesmo maravilhosas. Elas sorriem para nós, passam-nos a mão pela cabeça, dizem-nos palavrinhas simpáticas e apesar de fazermos algumas maldades, continuam a gostar de nós.
Até aquele senhor já velhote, com cara de poucos amigos, que não gostava que jogássemos à bola em frente da sua casa, até esse, de vez em quando, vinha à rua ver as crianças brincar, a tentar dizer-nos que ele também era simpático.

Pelo Natal, as pessoas são ainda mais carinhosas com as crianças. As crianças esperam ansiosamente as prendas que sabem que chegam nesta quadra natalícia.
No nosso tempo, acreditávamos piamente que o Pai Natal descia a chaminé e colocava as prendas nos nossos sapatinhos. Queríamos ser grandes, pois julgávamos que quanto maior fosse o sapato, maior era a prenda. Eram as ilusões de criança, próprias da nossa idade, pois éramos na realidade crianças e como tal, tínhamos imaginação de criança e não sentíamos falta de outras coisas . Apenas desejávamos ser crianças com comportamentos de crianças.

Nunca escrevi ao Pai Natal para fazer o meu pedido de prendas, pois acreditava que ele sabia escolher e todos os anos havia de trazer-me sempre a melhor prenda.
É o primeiro ano que estou a escrever ao Pai Natal e, lembrando-me dos meus tempos de infância, quero fazer-lhe o meu pedido, pois ainda hoje continuo a acreditar que o Pai Natal nos dará tudo aquilo que lhe pedirmos desde que acreditemos no nosso pedido e que o queremos utilizar na vida.
Para este Natal, vou fazer o meu pedido porque acredito que pode ser possivel, que as pessoas não se esqueçam da criança que têm dentro de si. Nós somos os mesmos daquele tempo quando éramos crianças. Sabemos que ser criança é maravilhoso, só lhe devemos acrescentar a nossa experiência de vida. Um adulto é o conjunto daquilo que foi em criança, acrescido do que aprendeu, enquanto viveu a sua juventude. Um adulto é uma criança e um jovem no mesmo corpo.


Vou pedir também ao Pai Natal que as pessoas não sintam solidão, não vivam solitárias, mesmo vivendo no meio de multidões. Temos tendência a isolarmo-nos, esquecendo que os outros pensam o mesmo que nós, o que mais desejamos é ser sociáveis, sermos aceites.


Vou pedir ainda ao Pai Natal que as pessoas influentes, responsáveis pelas empresas e entidades públicas e privadas, aqueles que têm o poder, abram as portas áqueles que tendo ideias e talento para as colocar em prática, estão à espera de uma oportunidade para se sentirem úteis e realizados.


O capital humano é a riqueza mais valiosa que um país tem como activo, que ele seja reconhecido em todos por igual.


Obrigado Pai Natal! Conto com a tua generosidade, conta também comigo para fazer a minha parte !

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A pasta de dentes


A sociedade reconhece os mais preparados a nivel académico como sendo as pessoas mais capacitadas para gerirem e solucionarem as questões de topo que parecem ser inacessiveis a todos os outros que não tiveram oportunidade de seguir os seus estudos.


São estes formados que tomam posição nos lugares de decisão, sendo quase imposssivel a outros menos letrados atingir lugares cimeiros. No entanto, existem gestores de empresas ou organismos que valorizam e dão oportunidades de carreira a pessoas que são exemplo de trabalho e dedicação a uma causa. Na sua área são exemplares e a desenvolvem até chegarem ao topo, não tendo forçosamente de serem de um nível de ensino superior para exercerem o cargo.


Quero aqui salientar dois casos que provam que somos bons naquilo fazemos e que conseguimos chegar ao topo na nossa carreira, seja qual for a nossa habilitação, apenas dependendo da nossa dedicação e empenho.

Um administrador de empresa multi-nacional quando chegou à administração, a primeira coisa que fez, foi conhecer todas os funcionários, dos gestores aos pessoal operário. Então teve a oportunidade de confirmar que alguns, ocupando lugares de topo e de chefia, não tinham capacidade técnica nem genética para exercer o cargo. Com aquela operação de conhecimento interno a nível pessoal e profissional, indagou ainda que alguns funcionários a desempenhar tarefas de nível inferior por terem menos habilitações académicas, eram pessoas altamente qualificadas, deslocadas do cargo superior que deveriam estar a desempenhar.


Lembro aqui o exemplo de uma alteração de organigrama que a vinda desse administrador causou na empresa. Um funcionário com habilitações ao nível do ensino básico, que trabalhava na empresa a algumas dezenas de anos no serviço de expediente , continuava a desempenhar a mesma função. Aquele funcionário, depois de ser devidamente reconhecido pela nova administração, passou a ocupar o cargo de director financeiro dessa empresa multi-nacional, proporcionando à empresa resultados exemplares na posição agora ocupada.


Outro caso que merece destaque refere-se à crise que estava a ocorrer numa das maiores marcas de pasta de dentes. As vendas não estavam a acompanhar a evolução devida e os gestores questionavam-se qual o motivo do volume de vendas não crecer conforme previsto.


Como não obtinham resposta para o sucedido, a administração decidiu promover uma reunião geral de trabalhadores da empresa, para tentar encontrar uma solução. Mais uma vez, os mais literados que ocupavam os lugares de topo na hierarquia, sentavam-se nos lugares mais à frente, pertinho da mesa ocupada pelos administradores e gestores de cúpula da empresa. Os funcionários de habilitação acamédica inferior e por conseguinte, igualmente de nivel inferior na hierarquia, sentavam-se nos lugares situados mais para o fundo da sala.


O administrador responsável pelos assuntos financeiros, interviu e abordou o assunto em questão. Falou sobre o problema até agora incontornável de o público não usar aquela marca de pasta de dentes em quantidade aceitável para o crescimento da empresa.


Depois de entre todos o gestores e lugares de chefia não ter havido qualquer solução para o problema em debate, foi colocada a questão a "raia miúda, designação dada ao pessoal operário. Nenhum deles tinha argumentos para solucionar a causa de o público não estar a usar a pasta de dentes da marca, na quantidade devida.

Como a reunião estava prestes a terminar, entrava  na sala o pessoal de limpeza. Um dos membros da equipa, um funcionário com mais de trinta anos no cargo, perguntou ao chefe das máquinas qual o motivo da reunião, já que o pessoal da limpeza não tinha sido convocado para comparecer.

As pessoas estão a usar cada vez menos a pasta de dentes da nossa marca, retorquiu o chefe das máquinas ao funcionário da limpeza. Então... e foi preciso fazer uma reunião geral para se saber qual o motivo ? Riu o servente de limpeza, exclamando: EU SEI, PORQUE NÃO ME PERGUNTARAM A MIM ?!

Lá em casa, já tinha falado à minha mulher: Não sei qual foi a ideia das embalagens da pasta de dentes estarem agora com o furo de saída tão pequeno que impede o produto de se espalhar bem na escova, concerteza vão passar a vender menos pasta !

As embalagens das pastas de dentes passaram a ter um furo de saída de diâmetro mais largo e no mês seguinte, o consumo de pasta de dentes atingiu o dobro do volume nas vendas em relação ao mês anterior. O funcionário foi louvado pela administração e ocupa agora o cargo de consultor de gestão. Mesmo não tendo a devida habilitação académica para o cargo, a administração entendeu que tinha a merecida qualificação para o desempenho da função !

Carlos Brito 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Os intervalos da chuva


Quando ainda era muito jovem, lembro-me de um episódio que aconteceu naquele tempo e que ainda hoje me lembro e me serve de referência.

Eu morava a cerca de três ou quatro quilómetros da minha escola primária, mas desde os sete anos, altura em que lá entrei, sempre fiz o percurso a pé, com sol ou com chuva.

Num dia de Inverno muito chuvoso, fui obrigado a resguardar-me debaixo de um alpendre de uma casa da beira da estrada, esperando que a chuva passasse. Como o tempo não amainava, ali estive durante algumas horas. O problema maior para mim era chegar muito tarde a casa, pois nesse dia tinha muitos trabalhos da escola para fazer e poderia anoitecer entretanto. De noite não os poderia fazer, pois não havia electricidade e à luz do candeeiro a petróleo não podia, porque os meus pais não deixavam, porque gastava petróleo que fazia falta para  os outros dias.

Como estava já a ficar preocupado com a situação, comecei a chorar, pois começava a anoitecer. Então, passou por lá um velhote que vestia como um mendigo e me perguntou: porque choras, meu menino?

Eu respondi-lhe, que estava a chover muito e queria ir para casa e assim chovendo, não poderia sair dali. O homem olhou para mim, fixou-me nos olhos e disse-me: vai para casa, menino, vai sempre pelos intervalos da chuva que não te molharás. Olhando melhor para a chuva, observei bem os pingos e havia realmente um intervalo entre eles. Corri muito depressa e seguindo o caminho, procurando sempre os intervalos da chuva, cheguei a casa sem nunca me ter molhado.

Este exemplo, tenho tentado segui-lo sempre. Na verdade existe sempre uma oportunidade que nos possibilta sempre a seguir em frente e podermos contornar os obstáculos que encontramos. Precisamos apenas de espreitar a oportunidade, fazermos um plano e depois segui-lo e executá-lo de forma a obtermos o resultado pretendido.

Dizem que quem anda à chuva, molha-se. A verdade é que molhando ou não, devemos seguir sempre o nosso caminho, só assim conseguiremos fazer o percurso, nem que tenhamos de passar pelos intervalos da chuva.


Carlos Brito