sábado, 11 de dezembro de 2010

A Solidão


A solidão é um comportamento pessoal que cada vez mais atinge, não só os mais velhos, como também os mais novos. Os jovens, ainda muito novos, refugiam-se numa solidão absurda que só a eles apenas faz sentido. Não ouvem os pais, os irmãos, outros familiares, os verdadeiros amigos que com eles acompanham a sua vida. O certo é que algo lhes provoca solidão e os está a transformar, não tendo eles vontade e muito menos coragem para falar do motivo que lhes provoca tal comportamento.

Sentindo solidão tudo nos parece triste, fora do lugar, sem fazer sentido, sem organização de vida, enfim, sem qualquer saída à vista. Parece que nunca nos encontramos com a nossa família, com os nossos amigos, que ninguém gosta de nós, sentimos orgulho em ser solitários.

O nosso mundo, quando vivemos em solidão, não é o mesmo mundo que os outros vivem. Os nossos amigos nunca estão, porque nunca os queremos ver. Os nossos pais não conversam porque não lhes damos oportunidade. A nossa pessoa amada nunca aparece porque não se chegamos a ela e tantas vezes ela está mesmo pertinho de nós. Na verdade, nós temos tudo ao nosso alcance, só temos de abrir os nossos horizontes e enxergar o que a vida, em cada dia, todos os dias sem nunca cansar, nos oferece.

Solitários, mas felizes e orgulhosos por sermos assim, lá vamos continuando a recusar tudo e todos que nos aparecem à frente, oferecendo a sua estima, a sua companhia, a sua amizade e até, por vezes, muito amor que sentimos e que sentem por nós, mas orgulhosos da solidão instalada, mandamos por água abaixo.

A solidão não nos permite ter um bom aproveitamento escolar. Não conseguimos aquela actividade profissional que sempre desejámos, enfim, rouba-nos a nossa verdadeira vida e durante anos consecutivos, vivemos uma outra vida que não é a nossa, mas o certo é que é essa que vivemos.

Pessoas já adultas, estão em grande número a tornarem-se solitárias, vivem em solidão, quando poderiam estar a viver a sua vida, como todas as outras pessoas.
Os idosos, muitos vivem em solidão, contra a sua vontade pois não têm meios físicos, nem lugares, nem pessoas com quem compartilhem os seus últimos anos de vida.

O que é deprimente, especialmente nas pessoas mais novas é que, quanto mais se isolam e, à medida que o tempo vai passando, mais se querem isolar.

As pessoas solitárias têm mais possibilidades de contrair doenças físicas e psíquicas e quando as pessoas fazem da solidão a sua companhia, estão criando um futuro sem esperança.

As pessoas que sofrem de solidão, tem tendência a alimentar-se mal e recorrer ao consumo excessivo de álcool e tabaco.

Mas afinal o que é e o que provoca a solidão, poderemos perguntar. Nós que passamos a vida a correr e estamos nas tintas para os problemas dos outros, nem reparamos que a solidão existe, pois já nos bastam os nossos problemas.

Aqueles que decidem por nós, será que se questionam quando tomam as suas deliberações, se elas afectam as pessoas solitárias. Ou será que apenas levam em consideração os seus pontos de vista e os do seu grupo, estando nas tintas para quem sofra disto ou daquilo. Será que tantos estudos e tantas comissões não dão resposta a problemas como é este da solidão?

O que será então a solidão? Qual a razão de nos sentirmos sós, quando à nossa volta existe imensa gente com quem nos relacionamos? Porque motivo não encontramos as pessoas ou serviços certos para nos relacionarmos e, antes, preferimos viver solitários, num mundo à parte deste mundo em que nos obrigam a viver? Tantos técnicos especialistas, tantos serviços, tantos gabinetes, tanto pessoal a trabalhar e continuamos ainda a viver solitários. Vivemos na nossa casca e não encontramos saída, parece que ninguém nos compreende, e ainda pior, não estão interessados em nos compreender.

Ninguém pergunta a nossa opinião, a não ser que chamemos a atenção com actos anormais para quem vive certinho em sociedade, mas que nunca é ouvido, a não ser para votar. Aí, beijam-nos, dão-nos abraços, riem-se para nós e até parecem mesmo que são aquilo que parecem.

Tempos depois, só somos ouvidos, mas já tarde demais, frente ao juiz, porque perdemos a cabeça e nos barricámos numa casa de banho pública e dissemos que tínhamos uma bomba; ou porque num qualquer serviço público falámos alto e dissemos aquilo que nunca tivemos oportunidade de dizer. Nestas situações somos ouvidos por negociadores que nos convencem que tudo passa a ser diferente. Que a partir de agora os técnicos especialistas, os serviços, os gabinetes, o pessoal e tudo o mais que pedirmos, nos vão acompanhar até tudo cair no esquecimento e voltarmos ao mesmo.

Estes comportamentos de solitários são motivados pelo diferente relacionamento entre os responsáveis dos serviços públicos e privados e os diversos tipos de indivíduos.

A nossa sociedade tende a marginalizar os mais fracos, os mais inibidos e os mais “certinhos” que acabando por perder o seu ritmo, são “apagados”, retirando-lhe qualquer representação ou visibilidade nos meios sociais.

Sabemos que este “sistema” está instalado por todo o lado. A lei do mais forte é a que vigora. Ao contrário do que nos é ensinado, o calado não vence sempre. O forte, o esperto, o que gosta de estar sempre por cima a qualquer custo, esse sim, vence sempre, e até, muitas vezes, não precisa de ser o mais inteligente.

Até um dia o diabo se cansar e aqueles que pensam que são os mais fracos pretenderem ocupar o seu lugar.


Carlos Brito

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