terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Os intervalos da chuva


Quando ainda era muito jovem, lembro-me de um episódio que aconteceu naquele tempo e que ainda hoje me lembro e me serve de referência.

Eu morava a cerca de três ou quatro quilómetros da minha escola primária, mas desde os sete anos, altura em que lá entrei, sempre fiz o percurso a pé, com sol ou com chuva.

Num dia de Inverno muito chuvoso, fui obrigado a resguardar-me debaixo de um alpendre de uma casa da beira da estrada, esperando que a chuva passasse. Como o tempo não amainava, ali estive durante algumas horas. O problema maior para mim era chegar muito tarde a casa, pois nesse dia tinha muitos trabalhos da escola para fazer e poderia anoitecer entretanto. De noite não os poderia fazer, pois não havia electricidade e à luz do candeeiro a petróleo não podia, porque os meus pais não deixavam, porque gastava petróleo que fazia falta para  os outros dias.

Como estava já a ficar preocupado com a situação, comecei a chorar, pois começava a anoitecer. Então, passou por lá um velhote que vestia como um mendigo e me perguntou: porque choras, meu menino?

Eu respondi-lhe, que estava a chover muito e queria ir para casa e assim chovendo, não poderia sair dali. O homem olhou para mim, fixou-me nos olhos e disse-me: vai para casa, menino, vai sempre pelos intervalos da chuva que não te molharás. Olhando melhor para a chuva, observei bem os pingos e havia realmente um intervalo entre eles. Corri muito depressa e seguindo o caminho, procurando sempre os intervalos da chuva, cheguei a casa sem nunca me ter molhado.

Este exemplo, tenho tentado segui-lo sempre. Na verdade existe sempre uma oportunidade que nos possibilta sempre a seguir em frente e podermos contornar os obstáculos que encontramos. Precisamos apenas de espreitar a oportunidade, fazermos um plano e depois segui-lo e executá-lo de forma a obtermos o resultado pretendido.

Dizem que quem anda à chuva, molha-se. A verdade é que molhando ou não, devemos seguir sempre o nosso caminho, só assim conseguiremos fazer o percurso, nem que tenhamos de passar pelos intervalos da chuva.


Carlos Brito

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