segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A lei do mais forte

Já por várias vezes que nos cruzamentos ou ao seguir numa estrada onde tenho prioridade de passagem, alguns camiões, daqueles bem grandes, se atravessam no meu caminho quando vou a conduzir a minha pequena viatura com a qual eu trabalho ou faço os meus passeios de lazer.

Esta semana que passou, este episódio mais uma vez se repetiu. O acontecimento de agora fez-me lembrar um outro de há alguns anos atrás. Um desses veículos pesados, composto por tractor e semi-reboque entrou  na minha faixa de rodagem vindo de uma rua sem prioridade, pois era um acesso de uma propriedade particular. Ignorando completamente o veículo onde eu seguia, continuou a sua marcha à mesma velocidade que trazia antes de entrar na minha “mão”. Muito assustado com a sua manobra, pois tive de travar bruscamente para não ter sido “passado a ferro”, a primeira coisa que me lembrei foi de buzinar longamente, fazendo chegar ao condutor do “pesado” o som do meu descontentamento.

Já depois de termos percorrido cerca de cem metros, eu continuava a buzinar, pois não via outro modo de fazer corrigir o erro daquele condutor que seguia à minha frente. Qual não foi o meu espanto, quando de repente, tendo-se acabado as pressas, o veículo se imobiliza em plena faixa de rodagem e de dentro da cabine sai de lá um “camelão” de todo o tamanho com um ferro comprido e grosso, dirigindo-se na
minha direcção, dando urros e transmitindo sons que mais pareciam serem emitidos por um animal selvagem ferido de dor.

Como o “animal” não desistia da sua intenção de fazer chegar aquele ferro ao seu destino que pelo seu andamento, deveria ser as minhas costas, cabeça ou não sei mais oquê, limitei-me a não lhe dar tempo de ele cumprir aquilo que na sua mente vinha destinado a fazer. Graças a Deus tive reflexos para me deslocar rapidamente daquele lugar e nada de mais grave aconteceu, senão aqueles dois sustos. Um, de ver um camião atravessar- se no meu caminho e outro por ver um “animal” enraivecido, parecido apenas com um homem na sua forma, do qual eu tive de fugir a “sete pés” para não ser literalmente massacrado por quem, apenas, foi chamado à razão do seu erro.

O maior problema dos Homens é eles serem todos tão parecidos uns com os outros que nunca sabemos bem quando é que dentro deles se encontra verdadeiramente um Homem.

Quando tirei a minha carta de condução e comecei a minha aventura na estrada, os meus acompanhantes no carro, muito se admiravam quando eu agradecia aos outros condutores por eles buzinarem para mim. Uma chamada de atenção pelos nossos erros é sempre de agradecer, pois só os verdadeiros amigos o fazem
a tempo. Depois daquele acto tresloucado, outros condutores de camiões já fizeram outras manobras parecidas, mas nunca mais me atrevi a buzinar-lhes.

A visão do “homem”, entre aspas, porque não sei bem se aquilo também
é ser homem, vejo-a muitas vezes, quando me sinto impotente para chamar à razão tantas pessoas que cometem erros e não dão a mínima hipótese de a minha “buzina” os fazer emendar. Bastaria muitas vezes
que as pessoas, mesmo não vindo de ferro na mão, ouvissem o que lhe queremos transmitir. Não o fazendo,
para aquele que pretende ser verdadeiro amigo e avisar os erros do próximo, o efeito é o mesmo que senti quando me vi ameaçado pelo “homem do ferro”. Resta-nos fugir da situação, não vá a coisa complicar-se para o nosso lado quando a nossa intenção, é ajudar a consertar algo que verificamos não estar bem e que
nos sentimos na obrigação moral de ajudar a corrigir.

Praticar a cidadania é podermos exercer os nossos direitos de cidadão. Deveriamos sempre poder
exercê-lo sem termos receio de estarmos sujeitos a que qualquer um se lembre de vir de lá com o seu
“ferro” na mão e machucar os que apenas têm intenções de ajudar.

O meu desejo para o novo ano é que este “ferro” deixe de ser a palavra de ordem, seja qual for a forma em que ele é empunhado. O “ferro” pode ser o silêncio, como resposta às nossas ideias, quando elas por inconveniência, não interessam a quem são remetidas.

O “ferro” pode ser o desinteresse demonstrado por aqueles que têm na mão o poder de decisão de sonhos que outros tentam a todo o custo realizar e não conseguem.

O meu sonho é que todos consigam realizar as suas ideias, os seus projectos, alcançar os seus objectivos, convencendo o homem do “ferro” que o efeito da “buzina” é apenas o de alertar para novos erros e que as outras pessoas, seja qual for o seu "tamanho", também tenham as mesmas possibilidades de seguirem o seu caminho com paz, ordem e tranquilidade.

Carlos Brito

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