segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amor, trabalho e lazer


Algumas pessoas que têm diferenças físicas em relação aos que se dizem normais, dão a estes muitas lições de vida e vivem com muito mais entusiasmo do que muitos daqueles que não têm qualquer deficiência. Costumo contar uma história de um homem
que não tendo sapatos para calçar, exibia os seus pés sujos a toda a gente
que por ali passava. Sentado num pequeno muro de uma praça bastante concorrida de pessoas que visitavam um monumento muito importante e conhecido, ia pedindo esmola
a este e àquele e de vez em quando alguém lhe dava uma moeda, a qual ele com cara muito triste, ia agradecendo aos seus benfeitores.

Numa tarde soalheira de Primavera, quando muitos transeuntes por ali passavam, um deles dirigiu- se ao mendigo e perguntou-lhe o que fazia ele ali sentado, num dia tão bonito de Sol. O pedinte, admirado com a pergunta, olhou para o homem e respondeu: peço esmola, meu amigo, porque não tenho dinheiro para comprar sapatos para calçar.

O outro, bastante indignado, questiona-o se é só por isso que pede esmola e sentando-se ao seu lado, tira as próteses que lhe substituem os pés e disse ao pedinte:
O senhor tem pés, apenas precisa de os lavar, pode trabalhar e ganhar dinheiro para comprar sapatos. Eu, e apontou para as pontas das suas pernas amputadas, não tenho pés, no entanto vivo feliz com a minha forma física. Procurei trabalho e vivo a minha
vida sem estar dependente das esmolas daqueles que como eu, trabalhando, se esforçam para obter rendimentos para si e para a sua família viverem dignamente.

Como aquela cena se tinha passado ali mesmo junto de mim, logo perguntei
ao homem que tinha a deficiência física, qual a sua motivação para conseguir ter tanta auto-estima em si próprio para falar ao pedinte daquela forma.
Ele contou-me que também foi muito difícil quando, devido a um acidente de automóvel, lhe amputaram os dois pés. Nunca desistiu de viver e a partir dessa data, com a ajuda das próteses, vive uma vida normal, nunca se deixando cair pela fraqueza da dependência.
Para se sentir de cabeça levantada, além das próteses que lhe vieram dar de novo os seus pés, agarrou-se a três forças que considera fundamentais para a existência da humanidade: AMOR, TRABALHO E LAZER.

Depois do acidente, este homem tornou-se muito mais humano e muito mais Homem. Sabe aplicar o Amor em todos os seus actos.
O Amor é uma afeição viva pelas pessoas e pelas coisas que vimos e sentimos.
O Amor é viver com paixão por aquilo e aqueles que amamos.
Amor é coragem para dizermos e realizarmos o que sentimos e que sabemos ser capazes.
O Amor é o zelo e a dedicação que incutimos nas nossas tarefas e nos objectivos que
desejamos para os nossos trabalhos.
O trabalho uma actividade física e intelectual através da qual visamos atingir os objectivos, mas com prazer, usando nele as técnicas de gestão e organização que nos permitem obter melhores resultados.

O trabalho é a contrapartida da existência, sem ele não seria possível adquirirmos os nossos bens e termos à nossa disposição os serviços que diariamente precisamos.

O lazer vive-se tão intensamente como o Amor e o trabalho vivendo os tempos de lazer sem sentimento de prejuízo que possa causar nas suas outras ocupações.
Existe tempo suficiente para nos dedicarmos intensamente ao amor, ao trabalho
e aos períodos de lazer. Infelizmente, é preciso haver acidentes na vida das pessoas para sentirmos que poderemos viver a nossa vida em pleno, desde que apliquemos diariamente estas três forças: O AMOR, O TRABALHO E O LAZER.
Foi uma grande lição que aprendi naquele dia e ajudou-me a compreender melhor que aquelas três forças juntas, formam uma nova força, a energia positiva que nos transmite felicidade, dignidade e confiança para vivermos cada dia, todos os dias, em estado
de bem estar e excelência no trabalho.

Estas forças só serão vitais para a nossa felicidade se as conhecermos bem, se aprendermos a estar com elas e se realmente as utilizarmos em toda a sua plenitude. O que normalmente acontece é limitarmo-nos a saber que elas existem!

Carlos Brito

A lei do mais forte

Já por várias vezes que nos cruzamentos ou ao seguir numa estrada onde tenho prioridade de passagem, alguns camiões, daqueles bem grandes, se atravessam no meu caminho quando vou a conduzir a minha pequena viatura com a qual eu trabalho ou faço os meus passeios de lazer.

Esta semana que passou, este episódio mais uma vez se repetiu. O acontecimento de agora fez-me lembrar um outro de há alguns anos atrás. Um desses veículos pesados, composto por tractor e semi-reboque entrou  na minha faixa de rodagem vindo de uma rua sem prioridade, pois era um acesso de uma propriedade particular. Ignorando completamente o veículo onde eu seguia, continuou a sua marcha à mesma velocidade que trazia antes de entrar na minha “mão”. Muito assustado com a sua manobra, pois tive de travar bruscamente para não ter sido “passado a ferro”, a primeira coisa que me lembrei foi de buzinar longamente, fazendo chegar ao condutor do “pesado” o som do meu descontentamento.

Já depois de termos percorrido cerca de cem metros, eu continuava a buzinar, pois não via outro modo de fazer corrigir o erro daquele condutor que seguia à minha frente. Qual não foi o meu espanto, quando de repente, tendo-se acabado as pressas, o veículo se imobiliza em plena faixa de rodagem e de dentro da cabine sai de lá um “camelão” de todo o tamanho com um ferro comprido e grosso, dirigindo-se na
minha direcção, dando urros e transmitindo sons que mais pareciam serem emitidos por um animal selvagem ferido de dor.

Como o “animal” não desistia da sua intenção de fazer chegar aquele ferro ao seu destino que pelo seu andamento, deveria ser as minhas costas, cabeça ou não sei mais oquê, limitei-me a não lhe dar tempo de ele cumprir aquilo que na sua mente vinha destinado a fazer. Graças a Deus tive reflexos para me deslocar rapidamente daquele lugar e nada de mais grave aconteceu, senão aqueles dois sustos. Um, de ver um camião atravessar- se no meu caminho e outro por ver um “animal” enraivecido, parecido apenas com um homem na sua forma, do qual eu tive de fugir a “sete pés” para não ser literalmente massacrado por quem, apenas, foi chamado à razão do seu erro.

O maior problema dos Homens é eles serem todos tão parecidos uns com os outros que nunca sabemos bem quando é que dentro deles se encontra verdadeiramente um Homem.

Quando tirei a minha carta de condução e comecei a minha aventura na estrada, os meus acompanhantes no carro, muito se admiravam quando eu agradecia aos outros condutores por eles buzinarem para mim. Uma chamada de atenção pelos nossos erros é sempre de agradecer, pois só os verdadeiros amigos o fazem
a tempo. Depois daquele acto tresloucado, outros condutores de camiões já fizeram outras manobras parecidas, mas nunca mais me atrevi a buzinar-lhes.

A visão do “homem”, entre aspas, porque não sei bem se aquilo também
é ser homem, vejo-a muitas vezes, quando me sinto impotente para chamar à razão tantas pessoas que cometem erros e não dão a mínima hipótese de a minha “buzina” os fazer emendar. Bastaria muitas vezes
que as pessoas, mesmo não vindo de ferro na mão, ouvissem o que lhe queremos transmitir. Não o fazendo,
para aquele que pretende ser verdadeiro amigo e avisar os erros do próximo, o efeito é o mesmo que senti quando me vi ameaçado pelo “homem do ferro”. Resta-nos fugir da situação, não vá a coisa complicar-se para o nosso lado quando a nossa intenção, é ajudar a consertar algo que verificamos não estar bem e que
nos sentimos na obrigação moral de ajudar a corrigir.

Praticar a cidadania é podermos exercer os nossos direitos de cidadão. Deveriamos sempre poder
exercê-lo sem termos receio de estarmos sujeitos a que qualquer um se lembre de vir de lá com o seu
“ferro” na mão e machucar os que apenas têm intenções de ajudar.

O meu desejo para o novo ano é que este “ferro” deixe de ser a palavra de ordem, seja qual for a forma em que ele é empunhado. O “ferro” pode ser o silêncio, como resposta às nossas ideias, quando elas por inconveniência, não interessam a quem são remetidas.

O “ferro” pode ser o desinteresse demonstrado por aqueles que têm na mão o poder de decisão de sonhos que outros tentam a todo o custo realizar e não conseguem.

O meu sonho é que todos consigam realizar as suas ideias, os seus projectos, alcançar os seus objectivos, convencendo o homem do “ferro” que o efeito da “buzina” é apenas o de alertar para novos erros e que as outras pessoas, seja qual for o seu "tamanho", também tenham as mesmas possibilidades de seguirem o seu caminho com paz, ordem e tranquilidade.

Carlos Brito

domingo, 26 de dezembro de 2010

As desgraças unem os Homens mas não os ensina


O MUNDO surpreende-nos com notícias de fenómenos da natureza como o terramoto no Haiti que afectou cerca de três milhões de pessoas. Toda a zona da capital do país foi reduzida a escombros. O tremor de terra teve a magnitude de 7 na escala de Richter em que o máximo é de 9.

A América, a Europa e o mundo em geral compreendeu as dificuldades em que se encontra aquele pequenopaís. De todo o lado surgiram auxílios para as pessoas afectadas que de repente ficaram sem nada e para a completa recuperação dos feridos da tragédia.
Na linha da frente lá esteve Barack Obama que  pediu a união de esforços e da organização das forças humanitárias que auxiliaram as pessoas que precisaram de toda a ajuda.
As pessoas, individualmente, organizaram-se no sentido de fazer chegar também a sua ajuda áquele povo. Cada pessoa deu o que pode. Para uns sessenta cêntimos do custo de uma chamada da linha de ajuda já é muito, no entanto outros com maiores possibilidades financeiras teriam participado, por certo, para que quantias mais elevadas tivessem contribudo para a regularização dos estragos causados no Haiti.

Toda a gente foi sensível aos efeitos daquele fenómeno da natureza que afectou aquela zona do globo.
Nunca se sabe onde ou quando o nosso planeta nos vai lembrar que forças superiores estão acima das nossas atitudes mesquinhas de vida. Nunca se sabe quem vai ser “apanhado” da próxima vez. No entanto logo que tenhamos dado a nossa ajuda e que o tempo deixe passar alguns dias, já estamos descansados e não mais nos lembramos dos milhões de pessoas que o sismo marcou por morte, pelos feridos não recuperados totalmente e que ficarão deficientes para o resto da vida e ainda pelos mais pobres que ficando desalojados, muitas dificuldades terão em recuperar as suas casas que lhes serviam de abrigo.

Um amigo meu disse-me um dia que “o tempo é o grande mestre”. Como ainda era muita jovem, pensava que esse mestre nos transmitia os seus ensinamentos e que o Homem aprendia com ele. Com o passar do tempo, verifico que o tempo nos dá todas as oportunidades para aprendermos com a sua passagem, mas nós não fazemos uso de todas as suas muitas lições.

Das muitas leis que regulam o universo, a lei da solidariedade é talvez das mais importantes. Somos impelidos a ajudar o próximo. Uma força interior nos diz que temos de ajudar quem precisa. A acção dessa força pode ver-se na ajuda que todos, influenciados pela lei da solidariedade, conseguimos dar ao povo do Haiti.

Pretendo aqui chamar a atenção para o facto da força dessa lei apenas “disparar”quando existem grandes desgraças. Quanto maior for a desgraça, maior é a intensidade e com mais rapidez fazemos actuar a força que regula a lei da solidariedade.

Não deveríamos esperar que fenómenos naturais nos fizessem despoletar o nosso engenho da solidariedade apenas quando somos surpreendidos com tamanhas catástrofes. Cada pessoa é portador deste engenho regulador que nos faz agir nos casos em que temos de usar a lei da solidariedade.

Isso vê-se quando acontecem catástrofes como a do sismo do Haiti ou sempre que
um familiar ou ente querido sofre de sinistro grave. No entanto, esse engenho regulador deixa de funcionar quando alguém está com qualquer dificuldade que não faça “estragos” até uma determinada escala de sinistralidade.

Muitas vezes quando o engenho “dispara” já é tarde demais para ajudar e ninguém reparou nas vítimas, pois os afectados não conseguiram fazer chegar a sua voz de dor e sofrimento aos sensores que fazem disparar a força que acciona em nós, a lei da solidariedade.

Na verdade as grandes desgraças unem os Homens, mas não os ensina e nem os prepara para usar a lei da solidariedade para os pequenos actos de ajuda ao próximo. Aos olhos de uns, podem ser coisas tão pequenas e banais que não lhes é dada qualquer importância, mas podem ser monstros enormes aos olhos daqueles que apenas precisam de uma pequena ajuda, que por ser tão pequena passa despercebida. Quem precisa desse tipo de ajuda, resta- lhes mendigá-la, muitos não conseguem fazê-lo e os que o fazem, a maior parte não são atendidos. Segue-se a depressão e outras doenças que são o prelúdio para a morte lenta. No entanto, nem os familiares, nem amigos, nem todos aqueles que são sensíveis a tragédias reparam em quem está nesta situação, salvo quando já é tarde de mais e, por via disso, já não vale a pena ajudar.

De vez em quando alguns familiares e amigos que me conhecem melhor dizem que eu não vou conseguir mudar o mundo. Eu ficarei muito satisfeito se conseguir mudar um pequena parte dele, mesmo que seja tão pequena que ninguém repare nela !

Carlos Brito

sábado, 25 de dezembro de 2010

Carta ao Pai Natal


Na quadra festiva do Natal fazemo-nos transportar no tempo até áquela fase da nossa infância. Belos tempos, aqueles em que somos crianças e que nos comportamos como crianças.
Não conhecemos o futuro porque ainda não passámos por ele. Todas as coisas têm um ar belo, a luz do dia e o escuro da noite, transmitem-nos momentos de pura felicidade em cada acto que cometemos.
E nessa idade realizamos tantas coisas. Todos os dias aprendemos coisas novas e vivemos cada dia com deslumbrante entusiasmo.
Todas as pessoas são boas, mesmo maravilhosas. Elas sorriem para nós, passam-nos a mão pela cabeça, dizem-nos palavrinhas simpáticas e apesar de fazermos algumas maldades, continuam a gostar de nós.
Até aquele senhor já velhote, com cara de poucos amigos, que não gostava que jogássemos à bola em frente da sua casa, até esse, de vez em quando, vinha à rua ver as crianças brincar, a tentar dizer-nos que ele também era simpático.

Pelo Natal, as pessoas são ainda mais carinhosas com as crianças. As crianças esperam ansiosamente as prendas que sabem que chegam nesta quadra natalícia.
No nosso tempo, acreditávamos piamente que o Pai Natal descia a chaminé e colocava as prendas nos nossos sapatinhos. Queríamos ser grandes, pois julgávamos que quanto maior fosse o sapato, maior era a prenda. Eram as ilusões de criança, próprias da nossa idade, pois éramos na realidade crianças e como tal, tínhamos imaginação de criança e não sentíamos falta de outras coisas . Apenas desejávamos ser crianças com comportamentos de crianças.

Nunca escrevi ao Pai Natal para fazer o meu pedido de prendas, pois acreditava que ele sabia escolher e todos os anos havia de trazer-me sempre a melhor prenda.
É o primeiro ano que estou a escrever ao Pai Natal e, lembrando-me dos meus tempos de infância, quero fazer-lhe o meu pedido, pois ainda hoje continuo a acreditar que o Pai Natal nos dará tudo aquilo que lhe pedirmos desde que acreditemos no nosso pedido e que o queremos utilizar na vida.
Para este Natal, vou fazer o meu pedido porque acredito que pode ser possivel, que as pessoas não se esqueçam da criança que têm dentro de si. Nós somos os mesmos daquele tempo quando éramos crianças. Sabemos que ser criança é maravilhoso, só lhe devemos acrescentar a nossa experiência de vida. Um adulto é o conjunto daquilo que foi em criança, acrescido do que aprendeu, enquanto viveu a sua juventude. Um adulto é uma criança e um jovem no mesmo corpo.


Vou pedir também ao Pai Natal que as pessoas não sintam solidão, não vivam solitárias, mesmo vivendo no meio de multidões. Temos tendência a isolarmo-nos, esquecendo que os outros pensam o mesmo que nós, o que mais desejamos é ser sociáveis, sermos aceites.


Vou pedir ainda ao Pai Natal que as pessoas influentes, responsáveis pelas empresas e entidades públicas e privadas, aqueles que têm o poder, abram as portas áqueles que tendo ideias e talento para as colocar em prática, estão à espera de uma oportunidade para se sentirem úteis e realizados.


O capital humano é a riqueza mais valiosa que um país tem como activo, que ele seja reconhecido em todos por igual.


Obrigado Pai Natal! Conto com a tua generosidade, conta também comigo para fazer a minha parte !

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A pasta de dentes


A sociedade reconhece os mais preparados a nivel académico como sendo as pessoas mais capacitadas para gerirem e solucionarem as questões de topo que parecem ser inacessiveis a todos os outros que não tiveram oportunidade de seguir os seus estudos.


São estes formados que tomam posição nos lugares de decisão, sendo quase imposssivel a outros menos letrados atingir lugares cimeiros. No entanto, existem gestores de empresas ou organismos que valorizam e dão oportunidades de carreira a pessoas que são exemplo de trabalho e dedicação a uma causa. Na sua área são exemplares e a desenvolvem até chegarem ao topo, não tendo forçosamente de serem de um nível de ensino superior para exercerem o cargo.


Quero aqui salientar dois casos que provam que somos bons naquilo fazemos e que conseguimos chegar ao topo na nossa carreira, seja qual for a nossa habilitação, apenas dependendo da nossa dedicação e empenho.

Um administrador de empresa multi-nacional quando chegou à administração, a primeira coisa que fez, foi conhecer todas os funcionários, dos gestores aos pessoal operário. Então teve a oportunidade de confirmar que alguns, ocupando lugares de topo e de chefia, não tinham capacidade técnica nem genética para exercer o cargo. Com aquela operação de conhecimento interno a nível pessoal e profissional, indagou ainda que alguns funcionários a desempenhar tarefas de nível inferior por terem menos habilitações académicas, eram pessoas altamente qualificadas, deslocadas do cargo superior que deveriam estar a desempenhar.


Lembro aqui o exemplo de uma alteração de organigrama que a vinda desse administrador causou na empresa. Um funcionário com habilitações ao nível do ensino básico, que trabalhava na empresa a algumas dezenas de anos no serviço de expediente , continuava a desempenhar a mesma função. Aquele funcionário, depois de ser devidamente reconhecido pela nova administração, passou a ocupar o cargo de director financeiro dessa empresa multi-nacional, proporcionando à empresa resultados exemplares na posição agora ocupada.


Outro caso que merece destaque refere-se à crise que estava a ocorrer numa das maiores marcas de pasta de dentes. As vendas não estavam a acompanhar a evolução devida e os gestores questionavam-se qual o motivo do volume de vendas não crecer conforme previsto.


Como não obtinham resposta para o sucedido, a administração decidiu promover uma reunião geral de trabalhadores da empresa, para tentar encontrar uma solução. Mais uma vez, os mais literados que ocupavam os lugares de topo na hierarquia, sentavam-se nos lugares mais à frente, pertinho da mesa ocupada pelos administradores e gestores de cúpula da empresa. Os funcionários de habilitação acamédica inferior e por conseguinte, igualmente de nivel inferior na hierarquia, sentavam-se nos lugares situados mais para o fundo da sala.


O administrador responsável pelos assuntos financeiros, interviu e abordou o assunto em questão. Falou sobre o problema até agora incontornável de o público não usar aquela marca de pasta de dentes em quantidade aceitável para o crescimento da empresa.


Depois de entre todos o gestores e lugares de chefia não ter havido qualquer solução para o problema em debate, foi colocada a questão a "raia miúda, designação dada ao pessoal operário. Nenhum deles tinha argumentos para solucionar a causa de o público não estar a usar a pasta de dentes da marca, na quantidade devida.

Como a reunião estava prestes a terminar, entrava  na sala o pessoal de limpeza. Um dos membros da equipa, um funcionário com mais de trinta anos no cargo, perguntou ao chefe das máquinas qual o motivo da reunião, já que o pessoal da limpeza não tinha sido convocado para comparecer.

As pessoas estão a usar cada vez menos a pasta de dentes da nossa marca, retorquiu o chefe das máquinas ao funcionário da limpeza. Então... e foi preciso fazer uma reunião geral para se saber qual o motivo ? Riu o servente de limpeza, exclamando: EU SEI, PORQUE NÃO ME PERGUNTARAM A MIM ?!

Lá em casa, já tinha falado à minha mulher: Não sei qual foi a ideia das embalagens da pasta de dentes estarem agora com o furo de saída tão pequeno que impede o produto de se espalhar bem na escova, concerteza vão passar a vender menos pasta !

As embalagens das pastas de dentes passaram a ter um furo de saída de diâmetro mais largo e no mês seguinte, o consumo de pasta de dentes atingiu o dobro do volume nas vendas em relação ao mês anterior. O funcionário foi louvado pela administração e ocupa agora o cargo de consultor de gestão. Mesmo não tendo a devida habilitação académica para o cargo, a administração entendeu que tinha a merecida qualificação para o desempenho da função !

Carlos Brito 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Os intervalos da chuva


Quando ainda era muito jovem, lembro-me de um episódio que aconteceu naquele tempo e que ainda hoje me lembro e me serve de referência.

Eu morava a cerca de três ou quatro quilómetros da minha escola primária, mas desde os sete anos, altura em que lá entrei, sempre fiz o percurso a pé, com sol ou com chuva.

Num dia de Inverno muito chuvoso, fui obrigado a resguardar-me debaixo de um alpendre de uma casa da beira da estrada, esperando que a chuva passasse. Como o tempo não amainava, ali estive durante algumas horas. O problema maior para mim era chegar muito tarde a casa, pois nesse dia tinha muitos trabalhos da escola para fazer e poderia anoitecer entretanto. De noite não os poderia fazer, pois não havia electricidade e à luz do candeeiro a petróleo não podia, porque os meus pais não deixavam, porque gastava petróleo que fazia falta para  os outros dias.

Como estava já a ficar preocupado com a situação, comecei a chorar, pois começava a anoitecer. Então, passou por lá um velhote que vestia como um mendigo e me perguntou: porque choras, meu menino?

Eu respondi-lhe, que estava a chover muito e queria ir para casa e assim chovendo, não poderia sair dali. O homem olhou para mim, fixou-me nos olhos e disse-me: vai para casa, menino, vai sempre pelos intervalos da chuva que não te molharás. Olhando melhor para a chuva, observei bem os pingos e havia realmente um intervalo entre eles. Corri muito depressa e seguindo o caminho, procurando sempre os intervalos da chuva, cheguei a casa sem nunca me ter molhado.

Este exemplo, tenho tentado segui-lo sempre. Na verdade existe sempre uma oportunidade que nos possibilta sempre a seguir em frente e podermos contornar os obstáculos que encontramos. Precisamos apenas de espreitar a oportunidade, fazermos um plano e depois segui-lo e executá-lo de forma a obtermos o resultado pretendido.

Dizem que quem anda à chuva, molha-se. A verdade é que molhando ou não, devemos seguir sempre o nosso caminho, só assim conseguiremos fazer o percurso, nem que tenhamos de passar pelos intervalos da chuva.


Carlos Brito

Trabalhosa


Não me lembro bem se sonhei ou se é real o caso que aqui vou contar, tantos foram já os anos passados, assim como tantos casos eu já tive oportunidade de conhecer.

Já lá vai muito tempo, em que eu fui fazer uma viagem para o norte do país e visitei uma terra que se chamava Trabalhosa. Quando entrei na localidade, a placa indicava este nome algo estranho e logo tentei saber a razão, pelo qual deram este nome áquela terra. Parei junto duma lojinha antiga que vendia mercearias que tinha também uma secção de taberna. Pedi uma água para beber e logo perguntei à senhora que me serviu, qual a origem do nome de Trabalhosa, se era alguma lenda ou se alguma coisa tinha acontecido ali, que fosse razão para ser dado aquele nome.

Noutros tempos era normal encontrar pessoas simpáticas nas lojas, tabernas, cafés e outros serviços de atendimento ao público. A senhora também muito simpática, logo me informou que o nome de Trabalhosa, segundo lhe disse o seu avô, que lhe tinham dito também os seus avós, teve origem logo na fundação da localidade. Eles contavam que uma família numerosa, ali chegou há muito tempo, apenas com a pouca roupa que traziam no corpo. Os mais velhos decidiram radicar-se ali, pois os terrenos eram aráveis e assim teriam boas pastagens para o gado e boas colheitas que permitiam matar a fome a todos eles.

Os elementos da família trabalhavam na agricultura, única actividade existente durante muitos anos. Com o crescimento do número de pessoas que entretanto tinham nascido , foi necessário organizar todo aquele povoado e orientar os seus habitantes.

O patriarca da família, um ancião de longa idade, um homem sábio, conseguiu através do trabalho de toda a família, criar riqueza suficiente para manter aqueles que o acompanharam até ali e também os que entretanto nasceram.

O velho ancião, tendo em conta todo o seu trabalho e da sua família, denominou aquele povoado de Trabalhosa, que era agora uma cidade próspera na qual todos diziam que valia a pena viver, trabalhar e investir.

Passados muitos anos voltei áquela região e fui visitar novamente a cidade de Trabalhosa. Tudo estava diferente, a evolução dos tempos e o progresso da sociedade, tinham transformado tudo o que eu tinha presenciado muitos anos antes.

A cidade de Trabalhosa já não existia, aquela linda cidade que eu conheci, tinha-se dividido e a sua população, vivia em duas novas cidades, cujos nomes ainda tinha mais de estranho, eram agora as cidades de Laboriosa de Cima e Ociosa de Baixo.

Tentei descurtinar onde ficava situada aquela lojinha da senhora simpática, se é que ainda existia. Com muito custo, lá encontrei o estabalecimento, totalmente na mesma como o tinha conhecido anteriormente. Perguntei pela senhora ao rapaz que estava ao balcão e ele indicou-me para o canto direito da sala. Ali estava ainda a senhora simpática e com um sorriso, perguntou quem eu era. Feitas as apresentações, a senhora ainda lúcida, brotou uma lágrima e contou-me o que tinha acontecido.

Um homem muito rico entrou na vida da antiga cidade e com muita habilidade conseguiu virar os seus habitantes uns contra os outros. Estes tinham como lema e objectivos de vida, o trabalho, e devido a esse comportamento, todos tinham um bom nível de vida e respeitavam-se entre si.

Aquele homem de grande fortuna, comprou tudo o que podia, desde fábricas, estabelecimentos comerciais e de serviços e contratou pessoal também das firmas que não tinham feito as vendas a seu favor. Passado algum tempo, o homem rico, estava ainda mais rico e parte dos habitantes da terra, estava cada vez mais pobre, longe do nível de vida atingido anteriormente.

Aqueles que venderam os seus bens ou foram trabalhar para o detentor de parte da riqueza da terra, hoje são pessoas de fracos rendimentos, vivem do seu trabalho por conta de outrém que não lhes permite ter um nível de vida e de bem estar minimamente razoável. Muitos deles, nem sequer têm já trabalho e vivem de subsídio de desemprego e da caridade dos que se mantêm fiéis aos princípios do fundador da cidade.

Os habitantes vivem agora divididos entre duas cidades, os de Laboriosa de Cima, são cidadãos que trabalham para a sua comunidade, uns são empresários e outros assalariados, mas ambos motivados para atingir os objectivos de bem estar social.

Em Ociosa de Baixo, governa o municipio o líder dos ociosos de nome Passos Dias de Boavida. Os seus munícipes trabalham para um regime idealizado por ele e pelo homem rico, os dois sem quaisquer espécie de escrúpulos. Ambos fundadores desta cidade, marginalizam os trabalhadores e os outros empresários. É uma cidade triste onde impera a lei do mais forte. Quem lá vive, espera dias melhores, a reunificação das duas cidades é pedida pela população, os interesses financeiros têm falado mais alto e os mais fortes impedem que tal aconteça. Os habitantes de Ociosa de Baixo, encontram-se na situação de braços caídos e desmoralizados, não prevendo um futuro melhor.

Segundo me contou a senhora idosa, diz-se lá na terra que um dia os oprimidos pelo regime da cidade, hão-de juntar-se e motivados ganharão coragem e voltarão a viver tal como os seus “irmãos” da outra cidade. Às escondidas, sem que ninguém pudesse reparar, mostrou-me um pequeno papel, tipo panfleto, onde estava escrito: “Quando os oprimidos tiverem um mínimo de consciência, ai dos...” e o resto não consegui decifrar bem, pois a mulher teve medo de um, dizia ela, capanga do presidente, que entretanto entrava no seu estabelecimento.


Carlos Brito

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O caminho !


Quando nascemos, vem junto um manual de instruções que devemos seguir durante toda a vida para que ela seja vivida de forma a sentirmos sempre a verdadeira felicidade.

O que acontece, porém, é que quem recebe a encomenda não tem acesso a esse manual de instruções e nos faz reger pelo seu manual que nada tem a ver com o nosso, pois todos os manuais são diferente uns dos outros.


Quando chegamos à idade ideal e tivermos acesso ao nosso manual, na hora de o seguir, já todo o caminho percorrido até aí foi feito por percurso errado.


Quando prestamos atenção ao percurso por onde estamos a ser levados, observamos então que esse não é de todo o caminho que queremos percorrer.


Nesse dia começa a nossa luta diária para encontrarmos tudo o que desejamos e com o qual nos sentimos confortados e felizes, o motivo que valoriza e dá sentido à vida.

Ao olharmos à nossa volta, tudo nos parece irreal e todos nos olham de relance quando, por fim, resolvemos seguir o nosso próprio caminho, fazendo o percurso conforme o manual de intruções.

Quando seguimos o nosso rumo, pela direção que nos é solicitada no manual, parece que vamos em sentido contrário, pois quase todos os outros transeuntes, caminham em sentido oposto do nosso.

A nossa maior dificuldade está em continuar o nosso novo caminho, pois toda uma multidão, nos impede de caminhar pelo nosso trajeto, tal é a quantidade de gente que pensou seguir outros caminhos e se cruzam connosco. Mesmo aqueles que até agora faziam o nosso percurso, porque nós fazíamos o deles, parecem não entender que o nosso caminho é feito de lugares e paisagens diferentes do seu.

Muitos, devido à força da multidão, não têm força própria suficiente para avançar e retornam ao caminho anterior que lhes é proposto por terceiras pessoas que sentem e pensam que esse é também o nosso caminho.

Para facilitar o caminho da multidão, ela mesmo o foi aligeirando e construiu uma espécie de via rápida por onde pensa ser o caminho,  de modo a que todos passem por lá.

No entanto, gente "anormal" seguem percursos diferentes, seguindo por montes e vales onde brilha constantemente o arco-iris que  lhes vai facilitando o caminho. Em cada passo do percurso, respiram o ar puro que os motiva a prosseguir, sem pressas, a um lugar que não conhecem o destino, mas que sentem em cada momento até lá chegar.

Quem passa lá longe, na via rápida, em veículo confortável, onde nada de novo se passa, pois todos vão com pressa de chegar ao seu destino, limitam-se apenas, com um sorriso amarelo, a observar de relance, aqueles que optaram por caminhos diferentes e decidiram percorrer o seu próprio caminho.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Um abraço de amizade !!!

Estar próximo dos amigos é o desejo de cada ser humano, seja ele quem for. A solidão é apenas um motivo para nos desviarmos dessa linha comum entre todos.
Se todos os dias dermos um passo à frente no espaço que nos possa estar a causar algum tipo de solidão, isso será como um raio de sol que espreita e rompe a penumbra cinzenta e fria e que aquece os corações das pessoas com quem comunicamos, incluindo, principalmente, o nosso que fica mais aquecido e nos transmite uma paz interior que todos nós buscamos.
Viva a vida, leia um livro que gosta, saia de casa, passeie, comunique com amigos e com pessoas com quem se cruza, vista uma roupa diferente, sinta-se bem e confortável, visite algo ou alguém que faz tempo deseja visitar.
Estes são passos importantes que nos motivam para a vida e um grande passo para os outros que o que mais desejam é ver em nós, a expressão e ações em que transmitimos felicidade !!!

UM ABRAÇO DE AMIZADE !!!!!!!!!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

David e Golias



Sempre ouvi falar da história de David e Golias. Desde há muitos anos que os mais velhos nos falavam sobre esta lenda. Há quem diga que este relato bíblico, aconteceu mesmo na realidade.

Quando alguém conseguia um feito extraordinário, num desafio entre uma pessoa de caracteristicas normais e outra ou outras com muito mais força ou melhores condições para ganhar a batalha, logo alguém dizia que mais parecia a história de David e Golias.

Como sou uma pessoa bastante interessada em obter e transmitir novos conhecimentos, decidi ir investigar e saber mais sobre estes dois homens que há tanto tempo, nos servem de exemplo.

David e Golias, teriam vivido à cerca de 3 000 anos, na chamada terra prometida, onde hoje se situam os estados de Israel e Palestina. Golias pertencia a uma família de gigantes e tal como seu irmão Lami, era um homem muito forte, contam que tinha de altura 2,90 m.

Naquele tempo, tal como hoje, aqueles lugares eram palco de teatro de guerras constantes entre os povos da região. Golias, aquele homem gigante, representava o exército dos filisteus.

Os filisteus desafiaram os israelitas e decidiram enviar mensajeiros informando que, se no prazo de quarenta dias, Israel não apresentasse um guerreiro para lutar contra Golias ou, apresentando-se para uma luta individual e fosse vencido, o exército filisteu exerceria a soberania sobre o exército de Israel.

Com Golias como adversário, qualquer lutador sairia, por certo vencido. Ainda assim, o exército israelita indicou um para fazer frente áquele gigante. David, um rapaz ainda muito jovem, de fraca estatura física, foi o escolhido.

David era uma pessoa de grande personalidade e de muita confiança. Ferido de orgulho, ficou indignado com o desafio dos filisteus e ele mesmo se ofereceu a Saul, o rei que naquele tempo governava Israel.

Apenas com uma funda, espécie de uma fisga em tamanho grande e sem qualquer protecção, pois a armadura de guerreiro não lhe servia, tal era a sua fraca estatura.

Porém, David era um jovem corajoso e determinado e com a sua confiança ousou enfrentar Golias. O gigante, troçando do seu adversário, pergunta-lhe se por acaso era um cão, para que viesse a ele com cordas, referindo-se à funda que David usava.

David respondeu: “Tu vens a mim com espada, com lança e com dardo, mas eu chego a ti com o nome de Deus de quem escarnecestes”.

As armas de David davam-lhe a confiança da vitória e atirando-lhe uma pedra com a sua funda, penetrou-lhe na testa, fazendo-o cair por terra. Com a própria espada de Golias, David entregou-lhe a morte, cortando-lhe a cabeça.

Quando viram seu campeão morto, os filisteus fugiram, mas foram perseguidos e dizimados até à sua cidade.
Esta história surpreendeu-me pela sua actualidade, tendo em conta as suas semelhanças entre o exército filisteu aqui representado por Golias e alguns senhores de hoje que, pensando ser o Golias, estão na linha da frente do “exército” dos “novos filisteus”, usam e abusam da sua força, pisando e repisando os mais fracos.

Para estes Golias modernos, não lhes interessa saber se vivemos em democracia e como tal, deveríamos respeitar os outros para sermos respeitados e não pensarem de nós, como se fôssemos filisteus. Não lhes interessa saber se fazemos parte de uma comunidade tipicamente religiosa onde deveria vigorar os princípios da solidariedade e como tal, deveriamos sentir responsabilidade pelas consequências dos nossos actos. Como será que fica a situação dos outros quando agimos e apenas olhamos para o nosso umbigo, estando nas tintas para quem possa ficar de rastos, quem quiser e puder que se levante.

Nada disso interessa aos “novos filisteus”, eles pensam que terão sempre um Golias à frente do seu exército, ignorando que possa existir por aí um David e então, venham a passar de opressores a oprimidos e sentir na pele o que é estar do lado oposto da barricada.


Carlos Brito

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Solidariedade


Quando passamos na rua e nos cruzamos com as pessoas, o que normalmente se vê, são rostos tristes e com aspecto de quem vive a vida a sofrer. No contacto pessoal e directo, verifica-se que quase todos nós andamos com pressa e parece que não chegamos a lado nenhum. O que pretendemos fazer, parece também que nunca está feito. As portas em que precisamos bater, parece que se encontram sempre fechadas e se estão abertas, parece que nunca lá estão as pessoas certas com quem desejamos falar e que podem resolver as nossas situações.

Afinal, qual o motivo de andarmos sempre apressados e com cara de quem parece que todo o mundo está a desabar sobre nós?

Quando falamos sobre estes assuntos, a razão principal é sempre os outros e são eles que têm toda a responsabilidade. Na verdade é muito difícil viver-se nesta nova sociedade. Tudo tem de ser perfeito. Não podemos falhar em nada. Todos temos de ter bons empregos e receber bons salários. Todos temos de frequentar determinados locais para fazermos as nossas compras. Todos temos de vestir certo tipo e marcas de roupa. Todos temos de ter determinado tipo de constituição física.
Enfim, todos os dias procuramos a perfeição para podermos ser bem aceites pela sociedade moderna em que vivemos. Hoje parece que ningém se conhece, nem mesmo os vizinhos se falam, nem sequer se cumprimentam.

Há que reflectir sobre os motivos pelos quais o ser humano se comporta desta forma que nada tem a ver com a verdadeira razão de existência da raça humana. O “Homem” nasce para ser feliz, amar, relacionar-se na sociedade em amizade com o seu semelhante.

Os técnicos, psicólogos e outros mestres de recursos humanos, terão de descobrir novas práticas e eliminar as barreiras que a sociedade impõe e que os governos toleram.

 
Carlos Brito


Ser humano é ser feliz



Quando passamos na rua e nos cruzamos com as pessoas, o que normalmente se vê, são rostos tristes e com aspecto de quem vive a vida a sofrer. No contacto pessoal e directo, verifica-se que quase todos nós andamos com pressa e parece que não chegamos a lado nenhum. O que pretendemos fazer, parece também que nunca está feito. As portas em que precisamos bater, parece que se encontram sempre fechadas e se estão abertas, parece que nunca lá estão as pessoas certas com quem desejamos falar e que podem resolver as nossas situações.

Afinal, qual o motivo de andarmos sempre apressados e com cara de quem parece que todo o mundo está a desabar sobre nós?

Quando falamos sobre estes assuntos, a razão principal é sempre os outros e são eles que têm toda a responsabilidade. Na verdade é muito difícil viver-se nesta sociedade moderna. Tudo tem de ser perfeito. Não podemos falhar em nada. Todos temos de ter bons empregos e receber bons salários. Todos temos de frequentar determinados locais para fazermos as nossas compras. Todos temos de vestir certo tipo e marcas de roupa. Todos temos de ter determinado tipo de constituição física.

Enfim, todos os dias procuramos a perfeição para podermos ser bem aceites pela sociedade moderna em que vivemos. Hoje parece que ningém se conhece, nem mesmo os vizinhos se falam, nem sequer se cumprimentam.

Há que reflectir sobre os motivos, pelo quais hoje o ser humano se comporta desta forma que nada tem a ver com a verdadeira razão de existência da raça humana. O “Homem” nasce para ser feliz, amar e relacionar-se na sociedade em amizade com o seu semelhante.

Os técnicos, psicólogos e outros mestres de recursos humanos, terão de descobrir novas práticas e eliminar as barreiras que a sociedade impõe e que vamos tolerando.


Carlos Brito


Os sempre em pé

A mãe de um dos meus amigos de infância, ofereceu-lhe um boneco que tinha uma base redonda. A figura representava uma pessoa do campo, com vestuário típico de um trabalhador. Tinha a face escura e bochechas vermelhas e parecia estar sempre a rir.

Esse meu amigo, chamava áquele boneco “o sempre em pé”. Apesar de ser empurrado por todos os lados, de levar bofetada em tudo quanto era sítio, de ser ofendido com todo tipo de palavrões, aquele boneco, “o sempre em pé”, permanecia de pé e a sorrir.

Esse boneco faz lembrar certas pessoas que aguentam tudo e que tudo lhes cai em cima. Já não é muito vulgar encontrarmos alguém com estas características. Este tipo de pessoas está em vias de extinção, mas ainda existem alguns exemplares.

Num determinado serviço público onde costumo ir, existe lá um funcionário que nos dias de hoje é uma peça rara.
Ele trabalha na secção de atendimento ao público e despacha os utentes muito mais rápido que os seus colegas. Estes, estão constantemente a fazer-lhes perguntas sobre o serviço e a tirarem dúvidas sobre quase tudo o que fazem.

Aquele funcionário tem tempo para fazer o seu serviço mais rápido que os outros, responde aos colegas, esclarece dúvidas e explica como se fazem os serviços.

Ele faz de técnico de informática, pois quando os computadores têm problemas, chamam-no.

Ele faz de técnico de documentação, quando os processos não estão certos, chamam-no.

Ele faz de técnico de arquivo, quando não sabem de algum documento, chamam-no.

Ele faz de técnico de gestão e organização, quando algum processo está demorado por falta de tempo, chamam-no e é ele que chama a atenção aos responsáveis dos serviços que estão em atraso.

Quando vou a este serviço público e vejo este funcionário em acção, lembro-me sempre daquele boneco, “o sempre em pé”. Apesar de constantemente estar a ser interrompido no seu serviço, de saber de tudo o que se passa nos serviços em geral, de ser pau para toda a obra, está também sempre à disposição para fazerem dele o que lhes apetece e ainda assim, mantem-se constantemente bem disposto e com cara alegre e sorridente.

Esta figura do “sempre em pé” representa uma bengala para os “coxos” que abundam espalhados por todo o lado.

Carlos Brito

I. P. O.

Manter em bom estado a nossa saúde é algo que a todos deveria preocupar. Sempre gostei de reflectir sobre temas que são quase impossíveis de concretizar para as autarquias, governo, organismos estatais, empresas, etc., mas que para mim não vejo qualquer dificuldade na sua realização.

Os responsáveis pelas diversas organizações têm algumas ideias e executam-nas que, sendo tão caricatas, ficamos pasmados, pois não lembram ao diabo. Outras ideias, simples e práticas, mas com bons resultados não são postas em prática. Quando converso sobre isto, dizem-me que é por causa de interesses. Não percebo bem, pois penso que o principal interesse de cada cidadão é o bem estar de todos. Quando nos sentimos bem, produzimos mais, criamos mais riqueza, temos um melhor nível de vida. Mas o que presenciamos, são pessoas desmotivadas, desinteressadas, borrifando-se para a riqueza do país e bem estar do seu semelhante, cada um tratando de si.

Como vivemos num estado de direito, dizem os políticos, deveria haver pessoas nas organizações de topo, trabalhando com especialistas (psicólogos e tantos outros técnicos), formando equipas que motivem as pessoas, com o objectivo de estas se sentirem realizadas e em consequência “fazerem” um mundo melhor.

Por mim, podemos começar já hoje, não um mundo baseado na utopia, mas sim em realidades. Ver o que se passa noutras localidades ou noutros países. Ver exemplos de pessoas que se notabilizaram por feitos grandiosos e de valor para as suas terras e também para a humanidade. Será que essas pessoas foram todos génios ou foram pessoas como qualquer um de nós que tiveram a visão das suas obras e que com muita coragem, criando oportunidades, as realizaram.

Este tema há muito tempo que o penso tornar público. Esta ideia, era um segredo meu, bem guardado. Será que algum dia pensei em ser ministro da saúde e tinha-a como trunfo para executar durante o meu mandato?!!! Se alguma vez pensei isso, o melhor é esquecer. Pessoas com ideias como eu, nunca têm oportunidade de as colocar em prática. Quem tem essa oportunidade não tem, ou não quer colocar em prática as ideias de pessoas como eu.

Sempre me interroguei por qual seria o motivo de as pessoas só irem ao médico quando estão doentes e muitas, nem mesmo quando estão doentes procuram o médico. Morre muita gente por chegar já tarde aos cuidados médicos. O nosso corpo também é uma máquina e como tal também tem necessidade de assistência.

A minha ideia era tratar da máquina do corpo humano como, pelo menos, se tratasse de uma viatura. Uma vez por ano, no mês em que fazemos anos e a partir de uma certa idade, duas vezes por ano, todos seríamos chamados a Centros de Inspeções a que poderíamos chamar Centros de Saúde. Aí, cada um de nós, à parte de ser rico ou pobre, jovem ou idoso, homem ou mulher, seria inspecionado e verificado o seu estado de saúde. Se “passar” na inspecção que poderíamos chamar de exame médico, seria colocado um selo, por exemplo, de cor verde, num cartão de saúde que seria obrigatoriamente exibido sempre que fosse necessário tratar de qualquer documento. Se não “passar” na inspecção, neste caso, não teria trinta dias para se apresentar novamente a fazer o exame médico. Sendo rico ou pobre, jovem ou idoso, homem ou mulher, seria de imediato enviado ao Centro de Especialidades que existiria para “reparar” a anomalia indicada. Já “reparado” voltaria ao Centro de Saúde onde foi inspecçionado e onde lhe seria colocado o selo verde no seu cartão de saúde.

Não me parece utópica a realização desta ideia, como não foi utópica a realização de muitas ideias que revolucionaram o mundo. Antes, me parece ser a melhor forma de todos termos direito aos cuidados de saúde.

Veja-se o que diz o Artigo 64º da Constituição: nº 1 – Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover; nº 3, a) – Garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação.

Sei que esta ideia fica por isso mesmo, não passará de uma ideia, mesmo assim tornei-a pública. Quem sabe se um dia alguém a utiliza e eu ficarei famoso por ela ser minha.

Carlos Brito

A Falcoaria


A falcoaria é a arte de treinar falcões e outras aves de rapina. Há quem considere a falcoaria uma ciência, pois esta arte obriga a um estudo e conhecimento profundo do comportamento destas aves.

Os falcões preparados e utilizados na falcoaria, são motivados pelo treino a caçar as suas presas, pequenos quadrúpedes, como coelhos e outros de pequeno porte que a ave consiga apanhar e levar consigo nas suas garras fortes e afiadas.

O mais estranho, neste tipo de ave, é que sendo ela uma ave de rapina, portanto sobrevivendo da caça, ela não caça para si. Todos os animais que o falcão possa caçar, este não se serve deles para se alimentar. Já na posse da caça, a ave de rapina treinada, vai entregar a sua presa, a sua caça, à pessoa que procede ao seu treino diário.

O treino dos falcões, a falcoaria, é utilizado como forma de caça, pelo menos desde oes século VIII, antes de Cristo, ou seja, já lá vão mais de 2 800 anos e por estudos efectuados, pensa-se que a falcoaria teve origem na Ásia, aliás a parte do mundo onde ainda hoje esta arte está mais desenvolvida.

Como se faz então para treinar uma ave de rapina, como o falcão, de modo a que este nos entregue a sua caça, no lugar de ele mesmo a comer?

Quando há uns tempos, tive oportunidade de ver na televisão uma reportagem sobre a falcoaria, fiquei pasmado, com o método de treino dos falcões.

O animal é alimentado desde os seus primeiros dias por quem vai ser o seu treinador. Esta pessoa vai a partir daí ser o seu companheiro, a pessoa em quem ele vai mais confiar, determinado por palavras e gestos agradáveis ao animal. Mas, sendo o falcão uma ave de rapina que tem a necessidade absoluta de caçar para se alimentar para assim poder sobreviver, ele vê no seu treinador a sua salvação, pois é este quem lhe assegura também o fornecimento de todo o alimento que a ave sente necessidade.

Não precisando nunca de caçar para comer, pois sabe perfeitamente onde tem a comida em quantidade suficiente para si. Resta ao falcão praticar aquilo para o qual nasceu e está motivado naturalmente pelo seu instinto: Caçar.

Mesmo não tendo necessidade de caçar para se alimentar, o falcão tem o instinto de caçar e dele não consegue fugir. Então a caça conseguida pelo falcão, ele entrega-a a quem o alimenta.

A falcoaria significa a transformação dos objectivos naturais do falcão que é caçar para comer, numa obediência total ao seu “senhor” que o “compra”, dando-lhe de comer.

Este exemplo da falcoaria, que consiste na substituição do efeito dos instintos e dos objectivos dos animais através de um chamado treino que passa apenas pela alteração dos seus hábitos e capacidades naturais.

Esta técnica milenar, é também usada entre as pessoas. O Homem também treina, educa e “compra”, transformando os objectivos das pessoas em obediência total de forma a que uns satisfaçam os desejos de outros, a troco da compra do instinto e consciência dos primeiros.

Vejamos se não nos estão a satisfazer as necessidades básicas da alimentação e outras do mesmo nível, com o fim de não nos interessar satisfazer as outras necessidades de realização dos nossos objectivos e a concretização da nossa auto-estima.


Carlos Brito

O Poleiro


A criança é a fase mais bela da vida humana, tudo o que está à sua frente é bonito, tudo tem graça e tudo é coisa nova. O que foi visto ontem, já nada tem de novo hoje e amanhã parece que o mundo é outro. Pois é assim a vida enquanto somos crianças, aprendemos tudo o que vimos fazer e melhor ainda, aquilo que nos ensinam.

Nesta fase maravilhosa é muito importante que nos dediquem muito tempo e tenham muita paciência com a gente. Parecemos ser muito chatos, mas apenas o que pretendemos é que nos dêem a atenção devida a que temos direito, apenas pelo facto de termos nascido.

Neste aspecto, hoje as crianças estão a perder oportunidade de sentir muitas sensações que não lhes são proporcionadas no processo da aprendizagem. O tempo é sempre muito pouco para atender as necessidades de uma criança quando ela precisa de todo o tempo do mundo para ser criança.

No meu tempo de criança, noutros tempos, certamente não se vivia entulhado com tanta fartura de tanta coisa como hoje se vive. Este “fornecimento” de tudo o que for possível darmos à criança, serve apenas para a entreter, para a calar e para tentar esquecer que ela precisa de mais do que isso que parece tudo. A criança precisa muito mais de atenção, que lhe permita ter o seu espaço de criança, que tenha oportunidade para brincar como uma criança e assim poder sujar-se, experimentar a sensação de mexer na terra, ervas e objectos que a criança gosta e não aqueles que os adultos preferem.

Esta introdução, vem a propósito de muitas sensações que eu e muitas crianças do meu tempo sentíamos. Coisas simples mas maravilhosas, não tínhamos estaleiros de brinquedos, mas podíamos brincar com tudo o que houvesse para brincar e nos despertasse a atenção. Isso era aprendizagem, as crianças desenvolviam bastante a sua auto-estima e isso era bom para o seu ego.

Lembro-me que as crianças iam brincar para casa uma das outras e iam sozinhas. Os pais ou os irmãos mais velhos da casa onde estávamos a brincar é que se responsabilizavam pelas crianças que nesse dia brincavam em sua casa.

Uma cena que não mais esqueci era aquilo a que chamávamos o “deitar das galinhas”. Cerca de uma hora antes de chegar a noite as primeiras galinhas procuravam os seus lugares no poleiro. Este poleiro era feito com dois paus ao alto nos quais eram pregados outros paus mais finos a atravessar, nos quais as galinhas se iriam colocar ordenadamente.

Todos os dias as galinhas, nos galinheiros das diversas casas que tinham galinhas, se colocavam no poleiro pela mesma ordem. No primeiro pau, o de cima, colocavam-se os galos e as galinhas mais fortes e eram os primeiras a ocupar o lugar. Se alguma galinha mais fraca ocupasse aquele lugar, logo era forçada a deixá-lo e ocupar o seu lugar, no segundo pau abaixo do primeiro e depois pela mesma ordem de força iam ocupando os restantes lugares.

Durante muitos anos, enquanto crianças fomos assistindo, áquelas cenas que representavam nos galinheiros a hierarquia das galinhas e também a lei do mais forte.

Já adolescente uma pessoa adulta me explicou qual o motivo das galinhas mais fortes ocuparem os lugares de cima e as mais fracas ocuparem os lugares de baixo. Qual não foi o meu espanto, pois era ainda um jovem com cerca quinze ou dezasseis anos, quando o Sr. Vitor, pessoa muito respeitada pela sua sabedoria e pelas coisas que falava me disse com bastante e convicção: “As galinhas mais fortes ficam sempre no poleiro de cima para poderem defecar em cima das galinhas mais fracas que são obrigadas a ficar em baixo”

Na altura fiquei muito chocado com a afirmação que ouvi, ainda por cima vinda de um adulto. Hoje que tenho a sua idade, percebo bem o que é que ele quiz dizer com aquela frase.

Espero que um dia os poleiros só tenham um pau e que seja o pau de cima onde todos possam ocupar o seu lugar por mérito próprio e não serem obrigados pela força ou por outros métodos a ocupar os lugares de baixo.

 
Carlos Brito