domingo, 26 de dezembro de 2010

As desgraças unem os Homens mas não os ensina


O MUNDO surpreende-nos com notícias de fenómenos da natureza como o terramoto no Haiti que afectou cerca de três milhões de pessoas. Toda a zona da capital do país foi reduzida a escombros. O tremor de terra teve a magnitude de 7 na escala de Richter em que o máximo é de 9.

A América, a Europa e o mundo em geral compreendeu as dificuldades em que se encontra aquele pequenopaís. De todo o lado surgiram auxílios para as pessoas afectadas que de repente ficaram sem nada e para a completa recuperação dos feridos da tragédia.
Na linha da frente lá esteve Barack Obama que  pediu a união de esforços e da organização das forças humanitárias que auxiliaram as pessoas que precisaram de toda a ajuda.
As pessoas, individualmente, organizaram-se no sentido de fazer chegar também a sua ajuda áquele povo. Cada pessoa deu o que pode. Para uns sessenta cêntimos do custo de uma chamada da linha de ajuda já é muito, no entanto outros com maiores possibilidades financeiras teriam participado, por certo, para que quantias mais elevadas tivessem contribudo para a regularização dos estragos causados no Haiti.

Toda a gente foi sensível aos efeitos daquele fenómeno da natureza que afectou aquela zona do globo.
Nunca se sabe onde ou quando o nosso planeta nos vai lembrar que forças superiores estão acima das nossas atitudes mesquinhas de vida. Nunca se sabe quem vai ser “apanhado” da próxima vez. No entanto logo que tenhamos dado a nossa ajuda e que o tempo deixe passar alguns dias, já estamos descansados e não mais nos lembramos dos milhões de pessoas que o sismo marcou por morte, pelos feridos não recuperados totalmente e que ficarão deficientes para o resto da vida e ainda pelos mais pobres que ficando desalojados, muitas dificuldades terão em recuperar as suas casas que lhes serviam de abrigo.

Um amigo meu disse-me um dia que “o tempo é o grande mestre”. Como ainda era muita jovem, pensava que esse mestre nos transmitia os seus ensinamentos e que o Homem aprendia com ele. Com o passar do tempo, verifico que o tempo nos dá todas as oportunidades para aprendermos com a sua passagem, mas nós não fazemos uso de todas as suas muitas lições.

Das muitas leis que regulam o universo, a lei da solidariedade é talvez das mais importantes. Somos impelidos a ajudar o próximo. Uma força interior nos diz que temos de ajudar quem precisa. A acção dessa força pode ver-se na ajuda que todos, influenciados pela lei da solidariedade, conseguimos dar ao povo do Haiti.

Pretendo aqui chamar a atenção para o facto da força dessa lei apenas “disparar”quando existem grandes desgraças. Quanto maior for a desgraça, maior é a intensidade e com mais rapidez fazemos actuar a força que regula a lei da solidariedade.

Não deveríamos esperar que fenómenos naturais nos fizessem despoletar o nosso engenho da solidariedade apenas quando somos surpreendidos com tamanhas catástrofes. Cada pessoa é portador deste engenho regulador que nos faz agir nos casos em que temos de usar a lei da solidariedade.

Isso vê-se quando acontecem catástrofes como a do sismo do Haiti ou sempre que
um familiar ou ente querido sofre de sinistro grave. No entanto, esse engenho regulador deixa de funcionar quando alguém está com qualquer dificuldade que não faça “estragos” até uma determinada escala de sinistralidade.

Muitas vezes quando o engenho “dispara” já é tarde demais para ajudar e ninguém reparou nas vítimas, pois os afectados não conseguiram fazer chegar a sua voz de dor e sofrimento aos sensores que fazem disparar a força que acciona em nós, a lei da solidariedade.

Na verdade as grandes desgraças unem os Homens, mas não os ensina e nem os prepara para usar a lei da solidariedade para os pequenos actos de ajuda ao próximo. Aos olhos de uns, podem ser coisas tão pequenas e banais que não lhes é dada qualquer importância, mas podem ser monstros enormes aos olhos daqueles que apenas precisam de uma pequena ajuda, que por ser tão pequena passa despercebida. Quem precisa desse tipo de ajuda, resta- lhes mendigá-la, muitos não conseguem fazê-lo e os que o fazem, a maior parte não são atendidos. Segue-se a depressão e outras doenças que são o prelúdio para a morte lenta. No entanto, nem os familiares, nem amigos, nem todos aqueles que são sensíveis a tragédias reparam em quem está nesta situação, salvo quando já é tarde de mais e, por via disso, já não vale a pena ajudar.

De vez em quando alguns familiares e amigos que me conhecem melhor dizem que eu não vou conseguir mudar o mundo. Eu ficarei muito satisfeito se conseguir mudar um pequena parte dele, mesmo que seja tão pequena que ninguém repare nela !

Carlos Brito

Sem comentários:

Enviar um comentário