quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A pasta de dentes


A sociedade reconhece os mais preparados a nivel académico como sendo as pessoas mais capacitadas para gerirem e solucionarem as questões de topo que parecem ser inacessiveis a todos os outros que não tiveram oportunidade de seguir os seus estudos.


São estes formados que tomam posição nos lugares de decisão, sendo quase imposssivel a outros menos letrados atingir lugares cimeiros. No entanto, existem gestores de empresas ou organismos que valorizam e dão oportunidades de carreira a pessoas que são exemplo de trabalho e dedicação a uma causa. Na sua área são exemplares e a desenvolvem até chegarem ao topo, não tendo forçosamente de serem de um nível de ensino superior para exercerem o cargo.


Quero aqui salientar dois casos que provam que somos bons naquilo fazemos e que conseguimos chegar ao topo na nossa carreira, seja qual for a nossa habilitação, apenas dependendo da nossa dedicação e empenho.

Um administrador de empresa multi-nacional quando chegou à administração, a primeira coisa que fez, foi conhecer todas os funcionários, dos gestores aos pessoal operário. Então teve a oportunidade de confirmar que alguns, ocupando lugares de topo e de chefia, não tinham capacidade técnica nem genética para exercer o cargo. Com aquela operação de conhecimento interno a nível pessoal e profissional, indagou ainda que alguns funcionários a desempenhar tarefas de nível inferior por terem menos habilitações académicas, eram pessoas altamente qualificadas, deslocadas do cargo superior que deveriam estar a desempenhar.


Lembro aqui o exemplo de uma alteração de organigrama que a vinda desse administrador causou na empresa. Um funcionário com habilitações ao nível do ensino básico, que trabalhava na empresa a algumas dezenas de anos no serviço de expediente , continuava a desempenhar a mesma função. Aquele funcionário, depois de ser devidamente reconhecido pela nova administração, passou a ocupar o cargo de director financeiro dessa empresa multi-nacional, proporcionando à empresa resultados exemplares na posição agora ocupada.


Outro caso que merece destaque refere-se à crise que estava a ocorrer numa das maiores marcas de pasta de dentes. As vendas não estavam a acompanhar a evolução devida e os gestores questionavam-se qual o motivo do volume de vendas não crecer conforme previsto.


Como não obtinham resposta para o sucedido, a administração decidiu promover uma reunião geral de trabalhadores da empresa, para tentar encontrar uma solução. Mais uma vez, os mais literados que ocupavam os lugares de topo na hierarquia, sentavam-se nos lugares mais à frente, pertinho da mesa ocupada pelos administradores e gestores de cúpula da empresa. Os funcionários de habilitação acamédica inferior e por conseguinte, igualmente de nivel inferior na hierarquia, sentavam-se nos lugares situados mais para o fundo da sala.


O administrador responsável pelos assuntos financeiros, interviu e abordou o assunto em questão. Falou sobre o problema até agora incontornável de o público não usar aquela marca de pasta de dentes em quantidade aceitável para o crescimento da empresa.


Depois de entre todos o gestores e lugares de chefia não ter havido qualquer solução para o problema em debate, foi colocada a questão a "raia miúda, designação dada ao pessoal operário. Nenhum deles tinha argumentos para solucionar a causa de o público não estar a usar a pasta de dentes da marca, na quantidade devida.

Como a reunião estava prestes a terminar, entrava  na sala o pessoal de limpeza. Um dos membros da equipa, um funcionário com mais de trinta anos no cargo, perguntou ao chefe das máquinas qual o motivo da reunião, já que o pessoal da limpeza não tinha sido convocado para comparecer.

As pessoas estão a usar cada vez menos a pasta de dentes da nossa marca, retorquiu o chefe das máquinas ao funcionário da limpeza. Então... e foi preciso fazer uma reunião geral para se saber qual o motivo ? Riu o servente de limpeza, exclamando: EU SEI, PORQUE NÃO ME PERGUNTARAM A MIM ?!

Lá em casa, já tinha falado à minha mulher: Não sei qual foi a ideia das embalagens da pasta de dentes estarem agora com o furo de saída tão pequeno que impede o produto de se espalhar bem na escova, concerteza vão passar a vender menos pasta !

As embalagens das pastas de dentes passaram a ter um furo de saída de diâmetro mais largo e no mês seguinte, o consumo de pasta de dentes atingiu o dobro do volume nas vendas em relação ao mês anterior. O funcionário foi louvado pela administração e ocupa agora o cargo de consultor de gestão. Mesmo não tendo a devida habilitação académica para o cargo, a administração entendeu que tinha a merecida qualificação para o desempenho da função !

Carlos Brito 

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