quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Homem da Mala


O sonho comanda a vida. Todas as obras realizadas, desde sempre, têm o seu início a partir dos sonhos das pessoas. Todas as pessoas têm sonhos, mesmo quando estão acordadas. É a partir deste tipo de sonhos que nascem as ideias e se realizam as coisas que são as grandes obras que existem no planeta.

Obras não são apenas as mais variadas e diversas construções em betão, metálicas ou outro qualquer material. Obras são os desejos que os seres humanos têm, mas apenas aqueles que conseguimos realizar. Todos os desejos que a todo o momento nos vêm à ideia se não forem colocados em prática, nunca passarão disso mesmo, de um desejo ou uma ideia.

Uma quantidade infinita de obras poderia ser realizada se cada ideia com “pernas para andar” fosse colocada em prática e se seguíssemos à risca o seu plano.

Um plano de uma ideia, começa por definirmos bem qual é o nosso desejo que desejamos realizar, quais os passos que devemos seguir, um passo de cada vez, mas sempre um depois do outro. Como uma criança que aprende a andar, devemos continuar o nosso plano da ideia, mesmo que, uma ou outra vez, se caia pelo caminho. A parte mais bonita de cada desejo é aquela onde temos de aplicar aquela força que se chama coragem. Essa força que na maior parte das vezes nos falta, é a responsável pelo facto de termos milhões de ideias, mas na altura certa, não conseguimos “dar-lhe asas”.

Tenho esta curiosidade de saber quais as razões que levam as pessoas a não concretizar os seus sonhos e as suas ideias.

Quando eu era ainda mais jovem, havia um senhor de uma aldeia aqui perto que todos os dias se preparava com a roupa do Domingo - como dantes se chamava aos nossos melhores fatos – e lá vinha ele com uma mala de mão, uma pasta do tipo daquelas que usam os executivos e empresários que servem para transportar os documentos importantes.

Eu achava estranho e nunca percebi o motivo, pelo qual aquele homem todos os dias vinha à vila, agora cidade, com aquela mala de mão. O que viria ele fazer, que assuntos viria ele tratar, qual era a sua ocupação profissional, interrogáva-me eu sobre o “homem da mala”, era assim que ele era conhecido.

Passados muitos anos, já eu era mais adulto, ao passar na sua aldeia, perguntei pelo “homem da mala”. A senhora do café, riu-se e disse-me que muitas pessoas, tal como eu, também achavam estranho a postura do “homem da mala”, ela também se referiu assim, falando dele...

Este homem da aldeia – explicou-me a senhora do café - sempre teve o sonho de um dia ser uma pessoa importante, talvez um empresário ou alguém que tratasse de documentos. Rapaz novo, nunca conseguiu passar de um simples empregado de uma quinta e sempre trabalhou na agricultura.

Já adulto, teve problemas psíquicos, deixou de trabalhar e a sua ocupação era “fazer de conta”, daquilo que realmente desejava ter feito na vida. Este “fazer de conta”, durou mais de trinta anos e foi sempre o “homem da mala” até vir a falecer.

Lembro-me bem daquele senhor, sabia-se apresentar, falava bem, tinha e expunha boas ideias. Nunca conseguiu “dar-lhe asas”, vamos lá saber-se bem porquê...

Quando recordo o “homem da mala”, vejo a figura de tantas pessoas que passam a vida a desejar realizar as suas ideias, mas o “sistema” só deixa passar os “teimosos”, os corajosos e aqueles que façam parte dele.

Carlos Brito

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