quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Crise: a hora da mudança !


Oh mãe, o que é crise, perguntava uma criança, quando ouvia com atenção uma conversa entre adultos. Este episódio passou-se durante um longo tempo de espera num serviço público, onde os utentes, para se sentirem ocupados, vão tendo todo o tipo de conversas.

A mãe da criança estava também atenta à conversa onde o tema era a crise. Falava-se da crise financeira, do trabalho, dos combustíveis, da agricultura, da educação, falava-se de tudo o que não estava bem e, como tal, crise era tudo o que não estava bem.

Depois de tanto ouvir falar sobre a crise, a mãe tentava responder ao seu filho, que entretanto já estava impaciente e não deixava de perguntar: oh mãe, mãe, diz-me lá, o que é crise?

Então aquela mãe que era apenas ouvinte na discussão que se estava a passar, disse ao filho: sabes meu querido, crise é uma coisa muito importante, pois as pessoas falam muito dela. A criança, não ficando satisfeita com a resposta, questionou novamente a mãe: oh mãe, mas diz-me qual é essa coisa tão importante que as pessoas falam tanto que eu não percebo nada !

Olha filho, disse a mãe, essa coisa é a crise! Sem obter qualquer resposta, a criança tal como a mãe, não tinha ideia da situação que actualmente estamos a atravessar. A televisão, a rádio, os jornais e as pessoas “importantes”dizem apenas que é a crise e nós sem sabermos realmente o que está a acontecer, dizemos também que é a crise, para não parecer mal, não vá depois alguém pensar que não sabemos que estamos em crise. Não basta já estarmos em crise, quanto mais não sabermos o que é estarmos em crise, isso é que não!

Segundo os técnicos, crise é uma situação de perturbação que altera o curso ordinário das coisas. Com esta definição técnica, ainda não vamos lá e continuamos apenas a saber que crise é crise e pronto!

Então afinal que crise é esta, que perturbação está a acontecer, pois a televisão, rádio, jornais e senhores “importantes” nunca mais se calam com essa história da crise?

O cidadão comum tem dois caminhos a seguir: deixar de ver televisão, ouvir a rádio, ler os jornais e não ligar mais áquilo que dizem os senhores “importantes” que falam da crise e deve continuar a viver a sua vida tranquilamente como até agora tem feito, pois sempre ouvimos falar de crise e nem por isso deixámos de viver a vida. O outro caminho a seguir é informar-se realmente do que se passa e cada um agir em conformidade com a sua situação.

O segundo caminho parece-me ser o mais racional e, portanto, o mais certo. Na minha perspectiva o que se está a passar e dito por palavras simples de modo a que todas as pessoas percebam bém é o seguinte: a partir de determinada altura, há cerca de cem anos atrás, começou a desenvolver-se uma nova forma de trabalhar, era a época da revolução industrial. Durante muitos anos a seguir, os trabalhos efectuados manualmente pelos trabalhadores ou manufacturados, foram sendo substituidos por trabalhos efectuados por máquinas. Esta transformação laboral, permitiu à classe trabalhadora um melhoramento substancial do nível de vida. Com mais dinheiro na carteira, as pessoas começaram a gastar também mais, pois começaram a aparecer diversas ofertas de produtos, para dar vazão ao grande volume de dinheiro ganho pelos trabalhadores.

Como o Homem, por norma, é um ser ambicioso, começou a adquirir bens e serviços acima das suas possibilidades e além de gastar apenas o dinheiro que ganhava pelo pagamento do seu trabalho, foi atrás da ideia daqueles que se aproveitaram da abundância repentina de riqueza e como havia oferta em demasia de crédito por parte das entidades financeiras, as pessoas, na sua maioria, compraram casas, carros, mobiliário, férias e tudo o mais que a imaginação humana desejava. Era só fazer um clique e, como do céu tudo caísse, pois tudo era fácil de aquirir, logo as pessoas tinham tudo.

O que aconteceu foi que as pessoas se endividaram de tal forma que esgotaram todas as possibilidades de assumirem os seus compromissos. Limitam-se agora a sobreviverem como podem e as entidades financeiras, não estão a receber de volta o dinheiro emprestado que era dos depositantes que tinham ali o seu dinheiro aplicado. Em consequência os bancos estão também a ficar sem dinheiro...
Agora percebemos melhor a definição de crise: perturbação que altera o curso ordinário das coisas.

A solução, também na minha perspectiva, passa, por parte do cidadão comum, por realizar muito trabalho, dedicação ao serviço e respeito pelos compromissos assumidos. E por parte das entidades financeiras, compreensão da situação em que nos encontramos na qual ambas as partes têm responsabilidade e também capacidade negocial personalizada de forma a que não “afoguem” as pessoas, pois alguém “afogado” não consegue jamais resolver a sua situação e muito menos ainda, resolver a situação onde outras partes estão envolvidas.

É preciso mudar comportamentos e atitudes, chegou a hora da mudança...


Carlos Brito

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