Quando dos meus tempos de adolescente, portanto há mais de três décadas, já as pessoas que sentiam responsabilidade e desejavam atingir os seus objectivos, tudo faziam para conseguir realizar as coisas a que se propunham.
Na minha aldeia natal, que fica pertinho da cidade onde vivo, recordo-me ainda bem do Senhor Padre, andar por lá a “recrutar” elementos para o Coro da Igreja Paroquial.
Então, o método de “recrutamento” era feito da seguinte forma: eram chamados a comparecer todos os moradores da terra, afim de o Senhor Padre conhecer de entre todos, quais os seus dotes vocais.
Numa garagem, gentilmente cedida, os convidados a demonstrar o seu jeito para arte de cantar, eram todos ouvidos, sem excepção.
Bonita esta forma antiga de seleccionar pessoas para exercer determinada actividade em prol de uma terra, de uma obra religiosa ou social ou de qualquer outro evento. Assim, sendo todos chamados a participar, todos tinham a oportunidade de pertencer a este grupo ou áquela actividade de âmbito social.
Como na realidade toda a população da terra foi chamada, eu também lá teria de estar, pois já nesse tempo eu gostava de fazer parte do movimento associativo e de eventos onde fosse possivel conviver e também aprender outras coisas, ouvindo outras pessoas.
Claro que a minha veia artística na arte de cantar, durou apenas alguns minutos, já que o Senhor Padre logo detectou a minha voz de “cana rachada”, por entre aquelas muitas pessoas que faziam parte dos elementos a seleccionar para o Coro e de imediato me disse: essa voz aí ao fundo que está a desafinar, faz favor de sair.
Então, como pessoa muito educada, logo deixei aquele grupo de cantadores que iam continuando a entoar: “Canta, canta, amigo canta; vem cantar a nossa canção; tu sozinho não és nada, juntos temos o munda na mão”.
Durante mais de trinta anos, me tenho lembrado da melhor forma para convidar pessoas a participar nas diversas actividades e tenho-me servido dela como exemplo. Também nunca mais me esqueci que posso ter muitos valores, mas a arte de cantar, essa não a tenho, embora um maestro de canto ainda há pouco tempo num ensaio de vozes onde ao acaso participei, ele me apontou como “sendo” uma boa voz. Contando-lhe o episódio da minha longínqua prova de canto, recebi como resposta: “As coisas boas, nem sempre são aquelas mais fáceis de realizar, um diamante dá muito trabalho a lapidar até brilhar intensamente a sua luz”
Todos somos verdadeiros diamantes em bruto e transportamos connosco grandes riquezas dentro de nós. Não podemos esconder a pedra preciosa que todos os dias evitamos mostrar. Não existe um joalheiro para a pôr a brilhar, essa tarefa é apenas da nossa responsabilidade.
No entanto, não esqueçamos aquela parte da canção: “Tu sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão”. Com quem, como e onde, será obra de cada um de nós responder. Por vezes, a resposta está ali mesmo ao nosso lado...
Carlos Brito
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