No âmbito da minha actividade profissional, para tratar dos assuntos nas diversas entidades, porque pratico um serviço personalizado, tenho também de esperar horas infindáveis que dão cabo da paciência a qualquer pessoa.
Em muitas vezes reparei que um outro colega de profissão, sempre passava à frente de todos, ignorando a existência das demoradas filas de espera. Um dia apanhei-o a jeito e perguntei-lhe como ele fazia aquilo de passar à frente de todos.
É muito fácil, disse ele, amanhã vais comigo e também vais passar à frente de todos. Não gostei da conversa e sempre pensei que iria sobrar para mim, pois sou uma pessoa muita justa e por nada quero “passar a perna” seja a quem for. O que eu queria era apenas saber qual a sua estratégia para ser atendido sempre primeiro que os outros e logo na hora que chegava ao local do atendimento.
Então no outro dia eu já lá estava à espera da minha vez quando esse meu colega chegou. Com um acenar de cabeça, fez-me sinal para ir com ele. Chegando à porta do gabinete onde se procedia ao atendimento, esse meu colega bateu dois pequenos toques. Do lado de dentro alguém respondeu: Faz favor de dizer, ao qual o meu colega respondeu: é assunto urgente! Do lado de dentro ouvimos a voz que disse: se é urgente, pode entrar!
Tratámos dos nossos assuntos e fomos embora, enquanto todos os outros continuavam a esperar a sua vez.
Esta história leva-nos para outras tantas e tantas situações em que normalmente esperamos que chegue a nossa vez de conseguirmos chegar ao que temos direito, enquanto outros usando o “serviço de urgência” têm acesso aos meios que existem, mas que deveriam ser usados dentro de uma urgência normal, ou seja, todos os serviços deveriam ser urgentes seguindo uma ordem normal.
Lembro-me de um dia, em que os meus ouvidos me doiam bastante, precisei de marcar um exame para seguir o respectivo tratamento. Não obstante o meu sofrimento, o exame foi marcado para daí a três meses. Pasmado, disse à funcionária que não poderia ser, pois não aguentaria tanto tempo e perguntei se não poderia ser mais cedo. Pode sim, disse ela, se não for por conta da “Caixa”, se quiser pagar pode ser agora.
Na verdade, ignorando as mais elementares regras de justiça, as coisas ainda vão acontecendo da forma mais conveniente para aqueles que usam o “serviço de urgência”.
Pode não haver um médico para tratar um doente que normalmente trata a sua doença, mas em casos de agressões públicas ou acidentes, logo o “serviço de urgência” funciona.
Pode não haver meios para salvar empresas em dificuldades, mas quando elas fecham as portas, logo o “serviço de urgência” funciona subsidiando o desemprego.
Casos como estes, alteram a normalidade do decorrer dos actos e aqueles que querem ou podem usar o método do “serviço de urgência”, estão sempre à frente dos que, respeitando a ordem, vão dando a sua vez áqueles que, com consentimento do sistema, lhes vão “passando a perna”
Pode não haver tempo, dinheiro, equipamentos ou pessoal, mas se é urgente, já tudo aparece e tudo se resolve, basta ser considerado urgente!
Carlos Brito
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