Quando passava em viagem ao longo das estradas, grandes rebanhos de ovelhas pastavam nas pradarias e encostas e principalmente nos dias de verão. À hora da sesta, achava estranho as ovelhas deitarem-se separadas por cores.
Naqueles rebanhos de ovelhas brancas e pretas, podia-se ver ao longe uma grande mancha preta, eram as ovelhas pretas que junto das brancas descansavam à sombra, mas separadas, formando uma bonita separação de cores.
Tantas vezes vi aquele efeito de cores que num dia de viagem resolvi parar à beira da estrada e perguntar ao pastor daquele rebanho qual o motivo da separação das ovelhas por cores. O pastor, homem de meia idade, mas com cara de quem já guardava ovelhas há muito tempo, respondeu-me sem ter tido tempo sequer para pensar e parecendo ter a resposta na ponta da língua, olhando para as ovelhas, disse: Então aquilo ali é a lista negra, nunca ouviu falar da lista negra?
Em jeito de resposta do mesmo tipo, eu dei o troco na mesma moeda e disse para ele: bem, para mim uma lista negra são aquelas faixas de pano preto que se colocam nas viaturas, querendo-nos dizer que morreu alguém muito próximo, normalmente o proprietário do veículo.
E a nossa conversa agradável mas sem qualquer sentido ficou por ali mesmo e cada um de nós foi à sua vida.
Muitos anos mais tarde, quando enveredei pela vida empresarial, um antigo comerciante, já há muito tempo fora fora das lides do comércio, chamou-me um dia quando eu passava na rua e com ar enrugado, disse para eu ter sempre muito cuidado para nunca me deixar entrar na lista negra.
Aproveitando a oportunidade desta conversa, perguntei ao idoso e sábio homem, o que era isso da lista negra, pois apenas conhecia duas coisas com esse nome, as ovelhas pretas separadas das brancas e as faixas que se colocam nas viaturas quando morre alguém.
A lista negra, meu rapaz, disse o velho comerciante, é uma marca sem pena, pois quando entramos na lista negra ficamos marcados e jamais podemos cumprir a nossa pena, como aqueles que são julgados pelo juíz e condenados a cumpri-la e que depois de cumprida ficam livres dela.
Este homem, confidenciou-me ele, também entrou na lista negra derivado a um precalço dos seus negócios e até áquele dia nunca mais se levantou, tudo devido a ter entrado na lista negra.
O que será então a lista negra, que tipo de lista será essa, quem será que ditará os nomes daqueles que farão parte dessa lista, por que motivo se entra na lista negra ?
Pelo que eu entendi, depois das duas conversas com o pastor e com o antigo comerciante, uma lista negra pode ser aquilo que aceitarmos que seja. Tanto pode ser uma simpática mancha de ovelhas pretas, como a coisa mais terrível que nos pode acontecer: uma marca sem pena.
A conclusão que poderemos tirar desta história é que só entra para a condenante lista negra do velho comerciante, aqueles que trabalham, que lutam pela sua vida e pela das outros e os que têm honra e continuam a dar a cara. Estes serão as ovelhas brancas.
As ovelhas pretas representam aqueles que nunca entram na lista negra, pois eles próprios são já a lista negra, sem nada fazerem, porque são aqueles que nada fazem.
No entanto os que entram na lista negra são marcados sem nunca conseguirem cumprir a sua pena, enquanto os que são já de si a lista negra, são dignos de pena pela sociedade em que vivemos que esquece aqueles que no exercício da sua actividade, alguém os colocou nessa dolorosa e terrivel lista negra.
Carlos Brito
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