O Maluco era um homem com cerca de trinta e cinco anos. Quando passava na rua todas as crianças tinham medo dele, pois os nossos pais e vizinhos, diziam que ele era o maluco e, portanto, era preciso ter muito cuidado com ele.
Um certo dia de inverno, já tarde, encontrei-o e quando tentava desviar-me do seu caminho, disse-me em voz alta: “não tenhas medo que eu não te faço mal, dizem que eu sou o maluco, mas eu não passo de um desgraçado, fui jogado fora há muitos anos, sempre vivi assim”.
Como eu era criança, não percebi bem qual o significado das suas palavras, mas recordo o aspecto triste da sua face barbada e as lágrimas que corriam pelos olhos abaixo, em sinal de muita dor e sofrimento.
Quando acontecia qualquer coisa de mal lá na terra, era sempre o maluco que pagava as favas, mas a maior parte das vezes, o maluco tinha a fama e nunca tinha o proveito. Naqueles tempos era aborrecido ser-se maluco e quase não valia a pena . Só o eram mesmo, aqueles que tinham realmente perturbações mentais ou então, os que eram postos à margem da sociedade e sobreviviam apenas à sua custa, divagando sozinhos pelo mundo.
Os malucos daquele tempo, eram pessoas mal vistas e desprezadas pela sociedade. As crianças e as mulheres tinham muito medo deles, andavam esfarrapados, sujos e com cara de fome, pois até a própria família os desprezavam. Ser maluco, naquelas condições, não fazia qualquer sentido de vida e não trazia quaisquer vantagens para alguém que apenas desejasse ser maluco. Como tal existiam muito poucos, lá se via um aqui, outro acolá...
Nos tempos modernos que correm, o maluco é outro tipo de pessoa, muito diferente do seu antepassado. Agora o maluco, é aquele que não trabalha, que se veste bem, que ganhou bom dinheiro, que usufrui dos mais diversos subsídios, que é acompanhado pelos serviços da assistência social e que é sempre absolvido quando é julgado por alguém.
É melhor pensarmos duas vezes como é que queremos viver a vida, hoje pode valer mais a pena ser maluco. É preciso ver bem as vantagens que se tem, em relação aos que têm juizo.
A verdade é que aqueles que conseguem ser considerados malucos, jamais voltam a pertencer ao grupo dos que têm de trabalhar, que usam o fato de trabalho quando é preciso para ganharem dinheiro, que não usufruem de subsídios mas antes fazem descontos, que têm dificuldades no apoio de assistência social e que se sujeitam a ser condenados porque trabalham.
É caso para estes novos malucos dizerem: “se eu estou bem assim, não me vou pôr mal, eu é que não sou maluco...”
Carlos Brito
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