Quando frequentei a Escola Primária, era assim que se chamava naquele tempo, o meu professor foi sempre o mesmo da primeira à quarta classe. Sermos ensinados sempre pelo mesmo professor permitia que ele nos conhecesse muito bem, pois além de nos ensinar as matérias escolares, o professor era também um educador.
Era ele que atestava se o nosso vestuário mantinha os padrões normais de limpeza.
Se a nossa higiene corporal era feita nas devidas condições e na regularidade normal, já que nem todos tínhamos casas de banho em nossas casas. Os nossos pais em alguns casos tentavam improvisar um chuveiro com um balde adaptado para o efeito.
Era ele que verificava se nos comportávamos bem, levando em conta os palavrões que cada um dizia e as brigas que tínhamos uns com os outros.
Era o professor que controlava as nossas vacinas e que nos mandava a todos, em dia certo, levar as novas doses de vacinação e confirmava depois em cada boletim individual se não tínhamos faltado à terrivel “picadela”.
Era ainda o professor que tinha a atenção de verificar se a nossa alimentação estava a ser a devida e a ser tomada de forma conveniente. Os alunos com mais dificuldades financeiras poderiam almoçar gratuitamente na cantina escolar.
O meu professor foi um dos grandes mestres da época, ele formava os alunos, educava as crianças e preparava adultos para a vida activa, tudo para bem da nação, como se ouvia dizer naquele tempo.
Aquele pedagogo deixou-nos marcas positivas durante todo o tempo em que os seus alunos frequentaram a escola, uma delas e talvez a que mais me marcou foi o que ele chamava "A Linha da Frente".
"A Linha da Frente" era um pequeno grupo de alunos que era formado de entre toda a turma. O seu número andava pela meia dúzia dos cerca de trinta que compunham a sala.
Esse grupo de alunos que formavam "A Linha da Frente" era escolhido segundo as seguintes características de cada criança: o mais rico, o mais pobre, o mais sábio, o mais “burro”, o mais educado e o mais “brigão”.
Estes seis alunos teriam as condições necessárias para serem os melhores, pois segundo o professor, tinham entre eles as melhores ferramentas para poderem estar sempre na Linha da Frente.
O mais rico contribuia com a parte financeira; o mais pobre fornecia com mais mão de obra; o mais sábio propunha as melhores ideias; o mais “burro” colocava mais questões; o mais educado mantinha o equilíbrio entre eles e o mais “brigão”, dando um maior dinamismo ao grupo.
Os alunos da Linha da Frente eram sem dúvida sempre os melhores, o seu lema era “Um por todos e todos por um”. Fornecendo ao grupo apenas o que cada um possuía, juntos tinham tudo o que todos precisavam para vencer.
"A Linha da Frente" dá-nos uma lição de partilha e confirma que se dermos aos outros que têm de menos, um pouco do que temos ou sabemos mais, formaremos um grupo mais forte, mais rico e mais poderoso e seremos sempre, sem dúvida, os melhores, estaremos sempre na Linha da Frente.
Poderemos ser também os mais ricos, os mais pobres, os mais sábios, os mais “burros”, os mais educados e os mais “brigões”, desde que tenhamos em comum a vontade de querer partilhar e colocar em prática o que temos e o que somos, ou seja, manifestando o interesse mútuo dessa partilha.
Carlos Brito
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