Está na moda falar de crise. É tema de conversas de café, conversas de rua, conversas de família, etc.
A crise serve também de desculpa para muitos erros que quase todos nós cometemos e para muita “burrada” que alguns dos políticos, gestores e homens de negócios fizeram no desempenho das suas funções.
Como não havia palavras para se justificar esta situação a que se chegou, então veio esta crise. Agora, quase todos nós e também alguns políticos, gestores e homens de negócios, já podem respirar fundo e dizerem para si mesmos: graças a Deus que veio esta crise.
Encontramo-nos numa situação em que nos dizem ser de crise financeira, mas que eu digo ser uma crise de valores entre as pessoas. Parece que de repente, sem sabermos como, deixámos de ser quem éramos e que agora sentimos o chão a faltar-nos debaixo dos pés.
O que fizemos para chegarmos a esta situação? As pessoas andam na rua numa correria, numa melancolia que dá pena, quase não falam umas com as outras, muitas vezes até são mal educadas com os outros que, como elas, também andam assim e a fazer o mesmo.
Então, o que andam a fazer estas pessoas, nesta forma triste de estar na vida?! Se estivermos com um pouco de atenção, podemos ver qual é o seu percurso. Na verdade, uma parte das pessoas está em crise financeira, uma outra parte vive de quem vive em crise, sem qualquer problema, mas não se manifesta e anda despercebida no meio das outras pessoas.
Aqueles que realmente estão em crise, o que fazem na vida, logo muito cedo em cada dia, é arranjar forma de conseguirem dinheiro. Estão de tal forma “encantados” que todos os dias têm que ir entregar uma certa quantia em dinheiro, sempre aos mesmos lugares.
Como a quantia em dinheiro que é entregue diariamente nunca é suficiente, todos os dias, esta parte das pessoas que vive em crise, lá volta de novo em cada manhã, logo cedo, à mesma rotina.
E assim é todos os dias. Em cada dia lá estão sempre os mesmos a tentarem a forma de conseguirem dinheiro para ir entregar áqueles lugares do costume, onde todos os dias o vão entregar, mas que nunca é a quantia suficiente.
Se um dia ou outro, esta parte das pessoas que vive em crise, falha a sua entrega, a outra parte que vive bem, de imediato dá um sinal tão horroroso que os que vivem em crise, com medo de perder os seus bens e a sua dignidade, lá continuam, todos os dias a tentar a forma de conseguirem fazer as suas entregas em dinheiro, naqueles lugares onde está sempre alguém que o faz chegar às pessoas que estando no meio da crise, são os que vivem da crise.
Esta rotina vai acontecer até quando aqueles que vivem em crise continuarem diariamente a tentar a forma de conseguirem fazer as suas entregas em dinheiro, mas que, parece de propósito, nunca conseguem ser feitas em quantia suficiente.
Esta situação em que hoje nos encontramos, lembra-me uma história que a minha mãe me contava quando eu era criança: num terreno baldio situado numa terra vizinha, havia um lugar onde estava “plantada” uma grande pedra com a frente virada para o Sol. Debaixo dessa pedra, rente ao chão, aparecia todos os dias, vinda de uma “loca”, que era um buraco muito redondinho, uma serpente com olhos azuis dos quais brotava uma luz intensa que encantava os perdigotos que por ali passavam.
Esses perdigotos, que são os filhos das perdizes, não resistiam à tentação daquele olhar luminoso da serpente e em vez de seguirem o seu caminho, como por encanto, dirigiam-se áquela “loca” e assim todos os dias a “serpente encantada”, como era conhecida pelo povo, ficava de barriga cheia sem sair do lugar onde se encontrava.
A “serpente encantada” adquiriu outras formas de encantar perdigotos, mas continua a alimentar-se sem sair da sua “loca”...
Carlos Brito
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