Na aldeia onde eu nasci, ali muito perto da minha casa, nos tempos em que eu era criança, havia um local que nós conhecíamos por “Aroeira”. Era um sítio muito bonito que ficava numa pequena barreira e em toda a sua volta existia bastante erva rasteirinha que devido à sua cor verde, dava um aspecto muito primaveril durante todo o ano. As crianças e mesmo até os adolescentes, gostavam muito de ir para este lugar, pois havia ali duas fontes naturais que brotavam sempre bastante água muito límpida, uma de cada lado da barreira.
O nosso interesse em frequentar aquele espaço, prendia-se com o volume do caudal de água que corria em cada fonte. Os jovens frequentadores daquele local, viviam sem explicação para a diferença do caudal que variava de dia para dia. Se hoje uma fonte brotava água com mais abundância, amanhã poderia ser a outra fonte a ter o caudal mais forte.
Quando, normalmente depois de virmos da escola, íamos brincar para a “Aroeira”, os miúdos apostavam entre si qual era a fonte que hoje tinha mais caudal de água.
Durante muitos tempo, vivemos com vontade de saber qual era a razão de os caudais daquelas fontes, variarem de uns dias para os outros.
Num dia de Domingo, talvez no mês de Maio, já era bastante tarde, pois a noite já se fazia sentir, quando em grande alarido, os jovens ali presentes, faziam as suas apostas. Cada um fazia o seu palpite sobre qual era a fonte que amanhã teria o maior caudal. Os registos da apostas, eram escritos num caderno que um nosso colega de escola que tinha a alcunha de “Rabo de Sardanisca”, todos os dias levava para a “Aroeira”.
Todos estávamos entusiasmados com as apostas que nem reparámos na presença de um velhote vestido de preto, que tinha um chapéu de chuva a servir de bengala que entretanto tinha chegado perto de nós. Assustados ao vermos aquele vulto ali mesmo, o velhote disse em voz trémula e muito baixinho, próprio da idade que aparentava: “Olá meus meninos, sabem porque é que as fontes não deitam sempre a mesma água todos os dias?” Quando, assustados, nos preparávamos para fugir daquele sítio, o velhote continuou: “Estas fontes contam a história de dois meninos da vossa idade. Eles combinaram entre si, vir aqui mostrar os trabalhos escolares e aquele que tivesse melhor comportamento na escola e em casa com a família poderia escolher a sua fonte preferida. Então as fontes, reconhecendo o esforço que cada um fazia para obter os melhores resultados, decidiram premiar aquelas crianças, oferecendo-lhes como prémio, que a fonte preferida daquele que apresentasse os melhores trabalhos, seria a que tinha o maior caudal de água”.
Esta história, lembra-me sempre que quanto maior e melhor fizermos durante a nossa vida, seremos por isso premiados, mesmo que esse prémio esteja para além da nossa compreensão.
Podemos fazer sempre mais e melhor, devemos apontar como patamar mais baixo, o excelente, porque menos não se espera de nós. Basta fazermos por isso...
Carlos Brito
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