terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Os sempre em pé

A mãe de um dos meus amigos de infância, ofereceu-lhe um boneco que tinha uma base redonda. A figura representava uma pessoa do campo, com vestuário típico de um trabalhador. Tinha a face escura e bochechas vermelhas e parecia estar sempre a rir.

Esse meu amigo, chamava áquele boneco “o sempre em pé”. Apesar de ser empurrado por todos os lados, de levar bofetada em tudo quanto era sítio, de ser ofendido com todo tipo de palavrões, aquele boneco, “o sempre em pé”, permanecia de pé e a sorrir.

Esse boneco faz lembrar certas pessoas que aguentam tudo e que tudo lhes cai em cima. Já não é muito vulgar encontrarmos alguém com estas características. Este tipo de pessoas está em vias de extinção, mas ainda existem alguns exemplares.

Num determinado serviço público onde costumo ir, existe lá um funcionário que nos dias de hoje é uma peça rara.
Ele trabalha na secção de atendimento ao público e despacha os utentes muito mais rápido que os seus colegas. Estes, estão constantemente a fazer-lhes perguntas sobre o serviço e a tirarem dúvidas sobre quase tudo o que fazem.

Aquele funcionário tem tempo para fazer o seu serviço mais rápido que os outros, responde aos colegas, esclarece dúvidas e explica como se fazem os serviços.

Ele faz de técnico de informática, pois quando os computadores têm problemas, chamam-no.

Ele faz de técnico de documentação, quando os processos não estão certos, chamam-no.

Ele faz de técnico de arquivo, quando não sabem de algum documento, chamam-no.

Ele faz de técnico de gestão e organização, quando algum processo está demorado por falta de tempo, chamam-no e é ele que chama a atenção aos responsáveis dos serviços que estão em atraso.

Quando vou a este serviço público e vejo este funcionário em acção, lembro-me sempre daquele boneco, “o sempre em pé”. Apesar de constantemente estar a ser interrompido no seu serviço, de saber de tudo o que se passa nos serviços em geral, de ser pau para toda a obra, está também sempre à disposição para fazerem dele o que lhes apetece e ainda assim, mantem-se constantemente bem disposto e com cara alegre e sorridente.

Esta figura do “sempre em pé” representa uma bengala para os “coxos” que abundam espalhados por todo o lado.

Carlos Brito

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